sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre ensino universitário

Estudando para a seleção do Doutorado, sobre o processo de educação e as diferentes pedagogias propostas por bons cientistas da Educação, debruçada sobre as pilhas de artigos científicos sugeridos, relembrei das tantas aulas expositivas chatérrimas que tínhamos na graduação de engenharia. Poucos professores deixaram sua marca de excelência em minha memória. Estes, às vezes nem eram tão renomados, mas souberam despertar meu interesse em aprender, crescer, buscar informações. Sinto muitas saudades deles. Mas tantas foram as horas monótonas na maioria das disciplinas...
Relembrei também o curso de formação de instrutores, excelente oportunidade que tive de treinamento na SEFAZ,onde aprendi tantas técnicas andragógicas de ensino, incluindo uso de dinâmicas, musica, debates, filmes, estudos de caso, entre outros, na própria sala de aula. Como desejei que meus antigos professores tivessem aprendido essas técnicas!
É muito bom estar estudando outra área. Permite-me ver as mesmas coisas de perspectivas diferentes. Para minha tendência de radicalismo nas minhas convicções isto está me trazendo outras aprendizagens, e adoção de novos paradigmas.
Algumas vezes perguntei, para os amigos que se tornaram professores, como ministram suas aulas. A maioria mantém a mesma forma: maioria das aulas, expositivas. Espero que meus amigos mais brilhantes venham conseguindo uma performance como a da saudosa professora Rosa, de oratória fenomenal, que apenas uma vez, em 60 horas de curso, não prendeu minha atenção numa fatídica aula após o horário de almoço. Ou do grande amigo e professor Fábio, que dava saltos idênticos ao do Axel Rose na década de 90, de ponta a outra do quadro-negro verde, que ficava branco de tantos riscos de giz, e que no final da aula, ninguém mais sabia o que tinha escrito, mas que nos prendia em atenção elétrica... bons tempos!
Pensando bem, é extenuante para um professor, manter a didática e neurolinguística em várias horas diárias de aulas. Haja energia! Lembro de um curso que ministrei por uma semana, de 3 horas de aulas diárias, à tarde, que culminou com uma baita gripe no final de semana seguinte. Por isso penso que professores poderiam adotar outras técnicas de instrutoria, de execução menos cansativa, e com mesmo ou até maior potencial de aprendizagem para o aluno, entendendo o professor como um facilitador da aprendizagem.
Infelizmente, o fato é que predomina nas universidades a pedagogia tradicional de Duckenheim (1978), que privilegia a exposição e aquisição de conteúdos, e que vê o estudante como receptáculo no qual o professor inculca o que considera necessário (Vergara, 2003). Piaget (1972), porém, demonstra a importância da participação do educando no processo de aprendizagem, sendo a base do construtivismo que propõe, o conhecimento construído pelo educando. Vergara (2003), faz uma análise sobre diferentes correntes pedagógicas de ensino-aprendizagem, defendendo a tese de que conteúdos de ensino precisam ser utilizados como canais, como meios para que sejam desenvolvidos valores e habilidades de ordem intelectual e interpessoal. A autora propõe novas formas de ensino-aprendizagem para que os professores efetivamente preparem os alunos para o mercado de trabalho e provoque-lhes motivação relacionada à sua própria vida. Ela demonstra ainda que o ensino pautado em aulas exclusivamente expositivas nem sempre é adequado para provocar a geração de conhecimento e independência intelectual no estudante.
Então me questiono porque a maioria dos professores mantém esta estratégia, que não é a que promove maior aprendizagem e que extenua imensamente a si mesmo. Tantas são as formas de “cumprir os conteúdos” das disciplinas! Em minha experiência acadêmica na oceanografia, penso que parte da explicação se deva à demasiada concentração cartesiana nas nossas pesquisas “de base”, ainda que experimentais, brilhantes, envolventes, essenciais à vida, adoráveis, mas frequentemente desconectadas das demais ciências humanas.
Sejam quais forem as causas, escrevo esta pequena reflexão para provocar professores universitários a repensarem, inovarem, ampliarem a sua oportunidade cotidiana de promoverem a verdadeira aprendizagem em seus alunos, uma das missões de vida que considero das mais preciosas, e razão de minha maior motivação existencial, que em breve estará em execução.
Dicas ao amigos das exatas: resumos de trabalhos apresentados em congressos, de trabalhos ainda inconclusos são oportunidades de estimular a criatividade, a busca de hipóteses e soluções. Casos antigos, para os quais novos resultados o corrigem demonstram como podemos errar, mesmo nas ciências ditas Exatas. É preciso ser criativo. Vale à pena ver no trabalho de Vergara (2003) o resumo de práticas, recursos e citações para inovar nas aulas.

DURKHEIM, E. Educação e sociologia. Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1978.

PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. São Paulo: Forense, 1972.

VERGARA, S.C. Repensando a relação ensino-aprendizagem em administração: argumentos teóricos, práticas e recursos. Organização & Sociedade. v. 10, n. 28, set./dez. 2003, p. 131-144.

Compaixão

Esta semana li uma bela mensagem que um belo amigo me enviou.
Transcrevo alguns trechos da mesma, de autoria da Monja Cohen. Mensagem de elevadíssimo nível evolutivo. Acredito que a humanidade está caminhando para esta realidade, embora eu ainda nos veja muito distantes de alcançarmos esta lucidez. A massa robótica ainda é predominante, e o pior é que grande parte da massa pensante vem ficando incrédula, pessimista, materialista.
Por isso é preciso que não nos cansemos de espalhar sementes, bater nas mesmas teclas, tentar reeducar, falando de paz, de ecologia, sustentabilidade, amor, amizade, compaixão.

“Hoje eu sei que a compaixão é capaz de transformar o mundo e transformar o ser.
Hoje eu sei que a compaixão pode ser desenvolvida, cultivada; que as áreas do cérebro responsáveis pela compaixão podem ser estimuladas. Hoje eu sei que é possível "musculação de neurônios" através da meditação e do pensamento amoroso, terno, inclusivo, compreensivo e sábio.
...
Hoje eu sei que intersomos, interconectados com tudo que existe. Somos um só corpo e uma só vida. Estamos em rede. ..
Hoje eu sei que somos co responsáveis pela realidade em que vivemos, pelo mundo em que estamos e que não adianta reclamar, é preciso agir para transformar.
Hoje eu sei que a juventude passa, os amores passam, a velhice passa, os desamores passam. Tudo é transitório e passageiro.
...
Hoje eu sei que é preciso sentir que a indignação é uma alavanca para as grandes transformações e que as grandes transformações são feitas de pequenos gestos simples no dia a dia.
...
Hoje eu sei que a mudança depende de mim, de cada um de nós. E que só há um caminho: ação amorosa e não violenta para resolver conflitos e atritos.
Hoje eu sei que a vida vale a pena ser vivida em sua plenitude deste instante eterno.
E tudo que temos é este instante. Aqui e agora.”
Monja Coen

Terceiro setor deve sofrer forte impacto com a crise??

Esta semana fiquei decepcionada com um artigo de André Palhano (“Terceiro setor deve sofrer forte impacto com a crise”), em que ele afirmava: “Segundo especialistas, crise global será importante teste para avaliar se as empresas manterão a atual onda voltada à sustentabilidade”.
Lamentável de tão parcial, o artigo. A necessidade da sustentabilidade, uma necessidade planetária, ser chamada simplesmente por "nova onda", sem maiores contraponderações irritou a “escorpiana”. E o autor ainda encerra o artigo com a mesma idéia mater. Nos primeiros parágrafos ele faz uma argumentação paradoxal, quando faz tal questionamento, desconsiderando as razões que deflagraram as crises. Afinal, se os programas são pró-sustentabilidade de verdade, com esta crise, deveriam ser ampliados, e não questionados ou tampouco reduzidos. Infelizmente, é fato que muitas empresas estão trabalhando no que ele se referiu com "nova onda da sustentabilidade", apenas com objetivo de marketing. E aí pode-se chamar de “onda” mesmo. Mas é uma pena que o artigo passe ao leitor sua crença de que programas de sustentabilidade são mera "nova onda", sem sequer ponderar que a crise do momento – crise sistêmica - é reflexo justamente da insustentabilidade social e econômica dos sistemas adotados pelo mundo. A humanidade robótica ainda produz muito lixo.
Fui.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"Não será à custa de demonstrar o mal, que o bem encontrará clima em que possa desenvolver-se"

"...habituamo-nos a que tudo que há de grande se passe lá fora, nesse outro imenso país a que chamamos estrangeiro. Lá é que tudo vale a pena!... Por cá vemos os nossos defeitos, por cá nos parece que tudo corre mal e nada vale a pena...
...Ver o que está bem, falar do que vale a pena, procurar a alegria, procurar o lado positivo da realidade é criar um ambiente em que a vida pode crescer. Não será à custa de demonstrar o mal, que o bem encontrará clima em que possa desenvolver-se..." (Micael Pereira, Professor da UCP-Universidade Católica Portuguesa in "Onde os nossos olhos, aí o nosso coração).