sexta-feira, 18 de maio de 2012

Inteligência Emocional, Esqueça? Como assim?

Recebi um artigo de uma colega com um título provocativo: “Inteligência Emocional? Esqueça”, de Nelson Lima. O li com imenso prazer, posto que pensamentos diferentes sempre contribuem muito mais para o aprendizado do que os iguais aos nossos. Ainda que seja para reforçarmos nos entendimentos, como é o caso do artigo do Nelson Lima, que possui uma neotitulação, provavelmente de sua pós-graduação. Em minha graduação em Psicologia testemunhei o quanto os acadêmicos rejeitam os autores populares e até o desqualificam. Daniel Goleman, autor do bestseller que popularizou o conceito de Inteligência Emocional, foi um dos criticados em aula por uma das minhas professoras mais competentes. Lamentei o incidente em um comentário no meu blog: “Ciência, se não pode ajudar, não atrapalhe”, numa crítica ao volume de informações e trabalhos produzidos nas Universidades que ficam restritos às prateleiras das bibliotecas acadêmicas, nos periódicos científicos, muitas vezes prolixos e/ou ininteligíveis às pessoas de áreas diferentes. Aliás, minha tese oceanográfica é um destes trabalhos. E no caso do Goleman, ele mesmo foi um perfeito acadêmico, graduado em Harvard, e seu livro cita inúmeras pesquisas científicas e as referidas fontes bibliográficas. A diferença é que ele conseguiu popularizar suas pesquisas. Só posso lamentar e evito apresentar as minhas hipóteses para não ofender os nobres e inveterados acadêmicos que não conseguiram ser mais úteis à sociedade em geral. Fiquei curiosa em confirmar se Lima leu o livro de Daniel Goleman pois há várias passagens que indicam desconhecimento dos conteúdos. Uma delas é quando afirma “dar inteligência às emoções é impossível” ou “Não há emoções inteligentes”. Isto não tem nada a ver com Inteligência Emocional. É uma tradução pobre e distorcida do título do livro. Goleman inclusive tem vários capítulos dedicados à neurofisiologia das emoções, e os achados de importantes pesquisas como as de Ledux, que revolucionaram o entendimento da fisiologia das emoções. Vários autores em seus artigos ponderam que não há uma definição precisa sobre Inteligência Emocional. É uma competência que envolve os atributos do autoconhecimento, autocontrole, automotivação, empatia e capacidade de se relacionar bem com o outro. E concordo. Se pudesse sintetizar tudo, eu diria que a Inteligência Emocional, paradoxalmente, seria o uso da razão para lidar com as emoções, o que se faz a partir do desenvolvimento dos referidos atributos. Lima descreve como termo ideal “educação emocional” cujos parâmetros (crenças, atitudes, valores, auto-respeito, senso crítico e outros) são também abordados pelos propositores da Inteligência Emocional. Fiquei com a impressão de que está querendo vender um produto semelhante, apenas com um novo nome. Felizmente, Goleman continua seu trabalho (inclusive criando novos nomes para vender mais) e vários outros profissionais continuam abordando, difundindo e ampliando o conceito de Inteligência Emocional, um tema que só tem a nos ajudar em nosso processo evolutivo intrapessoal e nas relações com os outros. Isto não significa que seja chave para o sucesso. A vida sempre vai ter seus “altos e baixos”. E a consciência (self, alma, ego) é multifacetada. É cruel pensar que o mundo espere de nós a perfeição em cada segundo de nossas vidas. Não é por aí. Mas sabermos lidar com o que somos, com o que vivenciamos nas relações, e nos autodesenvolvermos continuamente é uma opção que pode ser muito fortalecida com as propostas da Inteligência Emocional. Particularmente, aposto mais na Inteligência Evolutiva, que vai além da Inteligência Emocional, mas isto está em outro artigo.

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