Sou fã da Miriam. Repasso o excelente artigo abaixo. Pena que seja sobre péssimas notícias. Sempre que leio coisas assim, me pergunto se esta é a melhor estratégia de sensibilizar as pessoas para que desenvolvam atitudes por uma sociedade melhor. Mas é preciso, no mínimo tomarmos conhecimento do que fazem nossos representantes, em nosso nome, nação brasileira.Nossas florestas estão cada vez mais comprometidas. A floresta Amazônica brasileira é vítima constante da ganância dos inescrupulosos. Dá vergonha a MP458. Legaliza e até beneficia, criminosos ambientais. Vejam a insensatez adotada pelos ruralistas, que atiram no próprio pé. Em nome de um lucro imediato, comprometem sua própria economia no futuro.Enquanto o mundo na direção de buscar soluções pela sustentabilidade do planeta e mesmo da economia, o Brasil caminha na contramão. Quando é que nossos governantes vão reconhecer que investir em proteção ao meio ambiente significa garantir a sustentabilidade ecológica e econômica da nação?Pensemos em qual pode ser nossa ação para a mudança positiva. Abs, Clara.
A INSENSATEZ - Coluna de Miriam Leitão, O Globo, Sexta 5/jun
O confronto entre ruralistas e ambientalistas é completamente insensato.Mesmo se a questão for analisada apenas do ponto de vista da economia, sãoos ambientalistas quem têm razão. Os ruralistas comemoram vitórias que sevoltarão contra eles no futuro. Os frigoríficos terão que provar aossupermercados do Brasil que não compram gado de áreas de desmatamento.O mundo está caminhando num sentido, e o Brasil vai em direção oposta. Emacelerada marcha para o passado.O debate, as propostas no Congresso, a aprovação da MP 458, os erros dogoverno, a cumplicidade da oposição, tudo isso mostra que a falta decompreensão é generalizada no país.A fritura pública do ministro Carlos Minc, da qual participou com gosto atéo senador oposicionista Tasso Jereissati (PSDB-CE), é um detalhe. O trágicoé a ação pluripartidária para queimar a Amazônia.Até a China começa a mudar. Nos Estados Unidos, o governo George Bush foipara o lixo da história. O presidente Barack Obama começa a dirigir o paísem outro rumo. Está tramitando no Congresso americano um conjunto deparâmetros federais para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Oque antes era apenas um sonho da Califórnia, agora será de todo o país.Neste momento em que a ficha começa a cair no mundo, no Brasil ainda sepensa que é possível pôr abaixo a maior floresta tropical do planeta, comose ela fosse um estorvo.A MP 458, agora dependendo apenas de sanção presidencial, é pior do queparece. É péssima. Ela legaliza, sim, quem grilou e dá até prazo. Quemocupou 1.500 hectares antes de primeiro de dezembro de 2004 poderá comprá-lasem licitação e sem vistoria. Tem preferência sobre a terra e poderá pagarda forma mais camarada possível: em 30 anos e com três de carência. E, se aofinal da carência quiser vender a terra, a MP permite. Em três anos, oimóvel pode ser passado adiante. Para os pequenos, de até quatrocentoshectares, o prazo é maior: de dez anos. E se o grileiro tomou a terra edeixou lá trabalhadores porque vive em outro lugar? Também tem direito aficar com ela, porque mesmo que a terra esteja ocupada por "preposto" elapode ser adquirida. E se for empresa? Também tem direito.Os defensores da MP na Câmara e no Senado dizem que era para regularizar asituação de quem foi levado para lá pelo governo militar e, depois,abandonado.Conversa fiada. Se fosse, o prazo não seria primeiro de dezembro de 2004.Disseram que era para beneficiar os pequenos posseiros. Conversa fiada. Sefosse, não se permitiria a venda ocupada por um preposto, nem a venda parapessoa jurídica.A lei abre brechas indecorosas para que o patrimônio de todos os brasileirosseja privatizado da pior forma. E a coalizão que se for$a favor dosgrileiros é ampla. Inclui o PSDB. O DEM nem se fala porque comandou avotação no Senado, através da relatoria da líder dos ruralistas, KátiaAbreu.Mais uma vez, Pedro Simon (PMDB-RS), quase solitário, estava na direçãocerta.A ex-ministra Marina Silva diz que o dia da aprovação da MP 458 foi oterceiro pior dia da vida dela."O primeiro foi quando perdi meu pai, o segundo, quando Chico Mendes morreu"desabafou.Ela sente como se tivesse perdido todos os avanços dos últimos anos.Minha discordância com a senadora é que eu não acredito nos avanços. Achoque o governo Lula sempre foi ambíguo em relação ao meio ambiente, e ogoverno Fernando Henrique foi omisso. Se tivessem tido postura, o Brasil nãoteria perdido o que perdeu.Só nos dois primeiros anos do governo Lula, 2003 e 2004, o desmatamentoalcançou 51 mil Km. Muitos que estavam nesse ataque recente à Floresta serãoagora "regularizados".O Greenpeace divulgou esta semana um relatório devastador. Mostrando que 80% do desmatamento da Amazônia se deve à pecuária. A ONG deu nome aos bois: Bertin, Marfrig, JBS Friboi são os maiores. O BNDES é sócio deles e osfinancia. Eles fornecem carne para inúmeras empresas, entre elas, as grandesredes de supermercados: Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar.Reuni ontem no programa Espaço Aberto, da Globonews, o coordenador doestudo, André Muggiatti e o presidente da Abras (Associação Brasileira deSupermercados), Sussumu Honda. O BNDES não quis ir.A boa notícia foi a atitude dos supermercados. Segundo Sussumu Honda, elesestão preocupados e vão usar seu poder de pressão contra os frigoríficos,para que eles mostrem, através de rastreamento, a origem do gado cuja carneé posta em suas prateleiras.Os exportadores de carne ameaçam processar o Greenpeace. Deveriam fazer ooposto e recusar todo o fornecedor ligado ao desmatamento. O mundo nãocomprará a carne brasileira a esse preço. Os exportadores enfrentarãobarreiras. Isso é certo.O Brasil é tão insensato que até da anêmica Mata Atlântica tirou 100 milhectares em três anos.Nossa marcha rumo ao passado nos tirará mercado externo. Mas isso é o demenos. O trágico é perdermos o futuro. Símbolo irônico das nossas escolhas éaprovar a MP 458 na semana do Meio Ambiente.