Comprei uma geladeira da Bosch. Com 15 dias, deu problema. O Técnico fez quatro visistas. No dia seguinte, o problema voltava. Entre os espaços de tempo, fiquei a semana de carnaval sem geladeira! Transtornos, alimentos perdidos, chateações. A previsão de solução definitiva era para 30 dias. Tive que comprar outro refrigerador (que bom que pude faze-lo). Para recuperar meu prejuízo e incomodar a Bosch, na intenção de fazer a empresa melhorar o atendimento ao consumidor, movi um processo nas "pequenas causas". Não houve acordo, e a contestação do advogado da Bosch foi tão ultrajante, que redigi o documento abaixo para juntar ao processo. Mandei-o também para a Bosch, e compartilho aqui, para mater acesa a chama dos brasileiros que batalham por condições mais dignas perante as multinacionais.
CARTA ABERTA PARA ANEXAR AO PROCESSO No. 0001280-41.2010.xxxxxxx
Recife, 02.12.2010
Excelentíssimo Senhor Juiz:
Redijo este documento para contestar inserções não éticas, inverdades e depreciações à minha pessoa, apresentadas pelo advogado da Bosch no processo que submeti à Justiça, gerando-me ainda mais constrangimentos neste processo. Por favor, peço sua leitura atenta.
Esclareço preliminarmente os seguintes fatos não descritos em meu processo:
Minha motivação para mover tal reivindicação, além de resgatar meus desgastes, tempo e dinheiro gerado com meu trabalho, é fazer com que as empresas aprendam a respeitar o consumidor, oferecendo condições mínimas de atendimento, de qualidade de seus produtos e de sua assistência técnica. Apenas devolver o valor que paguei, como foi proposto, é o mínimo de meu direito. É por isso que é mais negócio manter produtos de má qualidade - Não gera prejuízo para o fabricante, somente mais lucro.
Sou Engenheira, não tenho conhecimentos amplos do Direito, mas entendo e admiro a sua lógica, cujas Leis tentam garantir a justiça, ideal pelo qual muitos brasileiros lutam, da forma que estiver ao seu alcance. E este processo é o que estava ao meu alcance, em pequena ação. Uma amiga advogada deu a forma aos fatos que apresentei. É aviltante a afirmação de que eu pretenderia "enriquecer ilicitamente".
A contestação apresentada pela Bosch é revoltante, com diversas inserções desrespeitosas, sarcásticas e definitivamente mentirosas, ignorando, inclusive, os fatos listados no processo e os documentos anexos. Abaixo, listo apenas algumas das inserções que chegou a me fazer perder as esperanças de ver nossa sociedade mais ética, vivenciando a justiça, o respeito e a cidadania. Se advogados usam estes termos e artifícios para distorcer a realidade em favor dos seus abastados clientes, é uma pena.
O documento traz na página dois, que "foi agendada visita técnica". Não. Foram feitas várias visitas técnicas, conforme guias de atendimento anexadas ao processo. A geladeira era "reparada", e no dia seguinte voltava a parar. Após a quarta visita, o próprio técnico disse que não sabia o que estava acontecendo.
Ainda na página 2, insinua que minha forma de uso danificou a geladeira. Quero dizer que a anterior continua funcionando com quem a recebeu e a nova não apresentou nenhum problema.
Na página 3, diz que eu não permiti o reparo! Foram feitos vários reparos, como falei. Pior, cita-me como ser a culpada "A prova de ser culpa do consumidor".
Na página 4, nova inverdade: "foi atendido pela empresa, mesmo fora do prazo de garantia". Informo que a dita geladeira ainda está na garantia até o ano que vem, conforme nota fiscal anexa a este processo.
Agora, a pior parte, na página 7 foi "A Requerente pretende deliberadamente enriquecer-se ilicitamente através do instituto do dano moral". Não consigo traduzir minha revolta ante esta colocação. Chego a pensar se não me daria margem a mover uma ação por "calúnia e difamação". Sou uma cidadã. Cumpro com meus deveres. Pago meus impostos todos, sirvo ao Estado de Pernambuco com extrema dedicação e ética!
Senhor Juiz, sou lesada em meus direitos e vem-me um julgamento deste? O valor, inclusive, não me enriquece. Mas me é devido. Meus "aborrecimentos" valeriam até mais que o valor da causa, onde, em sua maior parte, aliás, saiu do meu bolso para a conta da Bosch e da Laser, sem falar nas dificuldades e gastos geradas com a alimentação familiar. Felizmente, vivo em condição privilegiada, onde o prejuízo financeiro foi pequeno, e pode ser resolvido com a compra de um novo refrigerador. Como ficam as pessoas da classe pobre? Sem geladeira, não é mesmo? Lesados financeiramente; às vezes com o favor dos vizinhos. Enquanto os milionários, fabricantes e lojistas, acham nada de mais, ficar 15 ou 30 dias sem um "bem não essencial".
Não são os consumidores lesados que trazem mencionada "morosidade à justiça", mas os empresários que não respeitam seus clientes e geram esta "indústria de processos", preferindo pagar advogados para causarem a dita morosidade nos processos e, pior, mais constrangimentos nos consumidores com até mentiras e difamações.
Grata pela atenção.
Atenciosamente,
Clara Emilie Boeckmann Vieira
Brasileira, cidadã, mãe, servidora pública, Voluntária.