quarta-feira, 22 de julho de 2015

Argumentações ilógicas e falácias

A cada dia testemunho mais argumentações sem fundamento, sem logicidade. Chamou-me a atenção o verbete da Enciclopédia da Conscienciologia “Argumentação ilógica” e o capítulo 151 “Consciências bélicas mentirosas” do livro Homo sapiens pacificus (pg. 420). Ajudou-me a discernir melhor alguns entendimentos empíricos. A título de curiosidade, vejamos algumas entre os 100 tipos de exemplos de das argumentações ilógicas e falácias citadas na referida bibliografia:
Argumentum ad hominem. O ataque pessoal, direto, formulado contra característica da pessoa defensora de determinada tese, desqualificando-a e reduzindo a credibilidade do argumentador. Trata-se de ataque a características pessoais, irrelevantes para a veracidade da tese apresentada pelo oponente.
Argumentum ad nauseam. Ocorre quando se credita maior probabilidade de algo ser verdadeiro em função do número de vezes o qual é dito. É tentar persuadir pessoas não pela qualidade da evidência em suporte da afirmação, mas pela constância da repetição.
Argumentum ad populum (Argumentum ad numerum). Ocorre sempre quando se argumenta sobre ideia baseado no apelo irrelevante da popularidade. Ênfase na tese de a opinião pública e popular repousarem sobre fundo de verdade.
Argumentum ad verecundiam. Este sofisma de autoridade apoia-se no fato de as pessoas aceitarem facilmente as argumentações baseadas no prestígio de quem as anuncia. Utiliza-se a posição social de alguém para chamar atenção e criar crenças coletivas. Argumento dependendo do poder, riqueza ou popularidade de quem fala.
Amostragem seletiva. A apreensão de base de dados específica e a comparação com dados mais genéricos levando a erros de avaliação.
Argumento do consenso. O argumento de defesa de serem as ideais e opiniões da maioria as mais corretas e melhores para todos. Toda unanimidade é perigosa.
Deificação. Tipo de raciocínio non sequitur no qual a falta de compreensão de algo leva a argumentação e à defesa de tratar-se de obra divina.
Jornalísticas. Métodos sutis de distorções midiáticas, com uso de imagens de apelo emocional; isolamento de eventos do próprio contexto histórico; personificação de realidades complexas; enfoques de pontos de vistas dissidentes de modo a torná-los triviais.
Razão pelo forfaif. Ocorre com presunção de superioridade sobre o assunto em pauta e a recusa ao debate a partir da acusação de o opositor não estar apto porque não tem preparo ou leitura de dados supostamente imprescindíveis, na verdade, irrelevantes para tal discussão.
Síndrome booleana. Trata-se de representar o continuum apenas pelas extremidades. Consiste em dividir a série inteira de opções exaustivamente em 2 extremos, depois em insistir na escolha ser feita entre 1 ou outro extremo, sem levar em conta as demais alternativas.
Superficialidade espúria. Ocorre quando o adversário desvia-se do assunto em debate utilizando-se de irrelevâncias, recusando a lógica e as provas do contraditor. Não podendo lançar mão do conjunto do problema, concentra-se sobre pequena parte orientando a refutação sobre fragmento minúsculo, apenas o perceptível a ele.
Exemplificando alguns incômodos que tenho tido com defesas em temas polêmicos, discorro alguns deles, e suas respectivas argumentações ilógicas ou falaciosas. O primeiro foi o incômodo de constatar que está se proliferando a defesa da “campanha armamentista” no Brasil, a ideia indefensável de que a liberação do porte de arma é uma coisa positiva. Argumentam em nome da “Liberdade” (!), que a violência está aumentando, que é uma questão de segurança (!). É a Falsa correlação. A utilização de correlações indevidas gerando afirmações equivocadas. Também incorre-se na falácia da Reificação do possível (hipóstase). Tomar possível efeito como certeza ao se fazer a avaliação de determinada causa (Há duas vertentes: reificação do improvável e reificação do existente). Basta ver o que acontece em países que têm liberação do porte de arma – cresce a violência! O que faz as pessoas pensarem que todos poderem ter porte de arma vai diminuir a incidência da violência, se a arma é instrumento de violência? Na verdade, nem precisaríamos discutir nada disso, se a Educação no país fosse de qualidade, incluindo uma formação cultural mais digna, social, altruísta.
Outra ilogicidade é a defesa da “Descriminalização do uso de drogas”. Uma vez ouvi uma professora doutorada fazer esta defesa com o argumento dos “absurdos que um drogado passa na cadeia ao ser preso somente por ser usuário”. Cai-se no clássico “Um erro justifica um outro”.  E na falácia da Negligência de consequências secundárias. Considerar apenas os resultados imediatos de determinada ação, ignorando efeitos de longo termo. Assim, esta defesa ignora o argumento de que este drogado incorre em ato ilícito. Ignora as possíveis consequências de uma pessoa drogada. Que em primeiro lugar atenta contra a própria saúde física e mental, com possíveis sequelas degenerativas e custosas à sociedade, ao governo, à sua própria família. E quem paga a conta dos resultados mais graves – acidentes, assassinatos, delinquências – provocados pelos usuários? E tudo para ter um patológico e desequilibrado estado alterado de consciência seja por fuga ou hedonismo “barato”. Diria até que os argumentos defensores da Descriminalização das drogas também caem na clássica falácia “Falsa correlação”.
Mais um grande problema é a argumentação ilógica em defesa de tradições. Tradições que se perpetuam às vezes por milênios e que por isso devem ser respeitadas. Isto se chama Argumentum ad antiquitatem. A afirmação de algo ser verdadeiro, bom e inquestionável apenas porque é antigo ou porque sempre foi assim. Mas tradições que causam dor e sofrimento a outro ser vivo (touradas), ou ainda pior, ao ser humano (infibulação, a burca, casamentos entre castas) deveriam ser execradas. Nada que cause sofrimento, dano físico ou moral, a bens ou seres vivos podem ser dignos de respeito, muito menos ante ao Argumentum ad antiquitatem, “a cultura”, como se esta fosse sempre positiva, como se não existissem verdadeiros idiotismos culturais, tema de outro artigo. Às vezes usam também a falácia da “Funcionalidade”:  a argumentação de algo existir porque "funciona", embora tal afirmação seja questionável ou ilusória. São idiotismos culturais cruéis, truculentos e irracionais, que não acompanham as mudanças e evoluções dos tempos, não contribuem em nada para a humanidade, ao contrário, a mantém em estigmas, no atraso, e o pior, na crueldade indefensável que destrói milhares de vidas.
Uma vez um colega defensor de tradições me falou que as próprias mulheres defendiam. Perguntei quantas. Esta é falácia da “Casuística”: O rechaçamento de determinada generalização alegando exceções, na verdade, irrelevantes. De fato existem vítimas tão lavadas cerebralmente, desde tenra infância, entre outras manipulações que sofrem, que são capazes de fazer uma “defesa” (se não fizerem, até são mortas). Mas porque esta minoria com razões questionáveis deveria prevalecer aos argumentos lógicos, e se sobrepor à grande maioria de pessoas da própria classe, mais racionais, revoltadas, indignadas e justificadamente contra estas tradições?
As pessoas têm total liberdade para apoiarem idiotismos culturais como o belicismo – encontram justificativas ilógicas e falaciosas para defenderem as guerras em curso, quando as verdadeiras razões são interesses econômicos, manipulações da indústria bélica, e insanidades dos líderes de países em guerra. As pessoas transformam assassinos em heróis, por exemplo, em nome da coragem que o policial teve de dar tiros à queima-roupa, no ladrão que escapava.  Ou o caso da presidente que participou de várias ações criminosas, incluindo sequestro, e hoje é chamada de coração valente (!) por ter sido torturada – talvez seja o caso do Argumentum ad consequentiam (valorações irrelevantes). Pretende refutar tese (caráter violento/terrorista) ou plano apelando a consequências irrelevantes para o objeto pretendente à demonstração (ter sido torturada inocenta atos prévios?). Aliás, como já disse um pensador: ditadura e radicais são as duas pontas de uma mesma ferradura. Vem à tona outra falácia que abomino: “os meios justificam os fins”.
E a defesa da monarquia, da ditadura, da pena de morte, do regime comunista (existe comunismo não ditatorial?). São tantas loucuras que têm sido postadas com defesas nas redes sociais. Opiniões que certamente não passam por um crivo de aprofundamento. Eu mesma gostaria de discutir cada um destes temas com maior aprofundamento. Por isso não ouso justificar as razões que levam as pessoas a estas defesas de ilogicidades. Tantas falácias e argumentos sofísticos, parciais, ideológicos, emocionais, passionais, furados. Então fico no debate das ideias, não da critica às pessoas. As hipóteses podem ser as mais diversas, as justificativas ideológicas, o conhecimento incompleto e restrito, a falta de cosmovisão, a falta de mundividência, a afetividade ectópica, o sadismo, o masoquismo, tantas outras possibilidades. Trago então a falácia que apela para a “Complexidade”: A falsa atribuição a conjunto de fatos específicos ser muito complexo para se chegar a simples solução ou a diagnóstico ou afirmação de não existir resposta simples para o caso. Complexidade não significa ininteligibilidade.
Reforço avaliar com profundidade os argumentos de sustentação de defesa de idiotismos culturais e tradições, sejam eles mais leves ou mais graves e atentar às ilogicidades e falácias. Evidencia-se a importância de ampliação cognitiva e do discernimento. A Educação configura-se como essencial. Estudo, pesquisa, leituras de qualidade. O autoconhecimento idem, face a realidade de muitas opiniões derivarem de processos patológicos e autodefensivos do ser. Acrescentemos a importância do desenvolvimento da criticidade, da autocriticidade, e do aprender a pensar.
“0 INTELIGENTE É MANTER POSTURA HETEROCRÍTICA EM RELAÇÃO AS AFIRMAÇÕES PUBLICAS  PEREMPTÓRIAS. QUALQUER NOTÍCIA ESPETACULAR TEM CERTO PERCENTUAL DE MENTIRA, NO MÍNIMO, NA FORMA” (Vieira, 2007).
“A ARGUMENTAÇÃO ILÓGICA EVIDENCIA A AUSÊNCIA DA RETILINEARIDADE DA INTELECÇÃO DA PESSOA, CARENTE DE MAIOR AUTORGANIZAÇÃO DAS IDEIAS, REFLETINDO TAL FATO NA PRÓPRIA VIDA HUMANA.
Você reconhece logo os desvios do próprio pensamento quando ilógico e busca retificá-los de imediato, ou teima em sustentá-los de modo irracional? A maturidade mentalsomática já chegou, ou não, até você?” (Vieira, 2012)
Referências:
Vieira, Waldo; Homo sapiens pacificus; 1.584 p.; 3ª Ed. Gratuita; Associação Internacional do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC); & Associação Internacional Editares; Foz do Iguaçu, PR; 2007.

Vieira, Waldo; Enciclopédia da Conscienciologia - Eletrônica; EDITARES/CEAEC; 7ª ED.; 2012. 

Por que respeitar os pais


Recentemente fiquei atônita com o comportamento em relação ao pai de dois queridos jovens que conheço. Jovens de boa índole, saudáveis. Mas que pareceu que não conseguem entender a posição de respeito aos pais. Fez-me refletir para entender o que se passou, fez-me refletir na minha relação com meus pais (bem diferente) e pesquisar hipóteses que explicassem tal comportamento. Dei-me conta que o respeito aos pais (para mim) é algo tão intrinsecamente natural, lógico, inato, que tive dificuldades em descrever o porquê deste respeito.
Pesquisei na internet “por que respeitar os pais” e pra minha surpresa, tirando os links religiosos, não encontrei quase nada. Recusei ler os argumentos religiosos, porque não me interessa que este respeito seja porque Deus quer assim, porque seja um mandamento, ou porque se não fizer assim você vai para um inferno. E, frequentemente, certas “leis” religiosas, quando assertivas, não ditam mais que o óbvio do que é adequado.
Li alguns artigos de especialistas em educação, vi alguns vídeos. Chamou-me a atenção a explicação do Içami Tiba (Quem Ama Educa), colocando que a geração passada foi tão massacrada pela predominância autoritária dos pais, que resolvendo fazer diferente com os próprios filhos, partiram para o extremo oposto, tornando-se pais lenientes, permissivos. Sem impor limites aos filhos, muitos pais criaram “príncipes”, crianças que tornam-se jovens sem noção de muitos valores nobres do ser humano, de respeito, e com um alto nível de acomodação a terem as coisas fáceis. Há várias outras causas explicativas para o desrespeito dos filhos aos pais. O próprio desequilíbrio e conflito entre os pais, as sutis ou grosseiras ações de alienação parental, os erros na educação, as distorções de valores, a pouca cognição de pais e de filhos, que pouco leem/estudam e muito ficam nas banalidades da TV, entre outros.
Falando genericamente, é cenário comum, na classe média e mais abastada, o incomodo ou recusa a pegar ônibus, mamãe ou papai tornam-se seus motoristas particulares, sendo às vezes os próprios pais que fazem o padrão. Ano passado um colega me falou que buscava o filho de 18 anos todos os dias na faculdade na hora do almoço. Sim, temos tempos de maior criminalidade que 20-30 anos atrás, quando eu, ainda menor de idade, trabalhava até 22h no shopping Recife e descia do ônibus na deserta avenida Conde da Boa Vista para andar alguns quarteirões até em casa, passando das 23h.
Mas e aí? Vamos manter a redoma nos filhos? Alimentando a cultura do medo, geralmente excesso de precaução? Estarão eles preparados para a vida? Para o mercado de trabalho? Amplia-se o nível de dependência, restringe-se a visão de mundo. E os pais que não têm carro? Aliás, os pais sem carro são maioria neste país de grandes desigualdades! É o paradoxo do excesso de zelo da minoria burguesa no Brasil.
É também cenário comum, não colaborarem nas tarefas domésticas, não terem suas coisas ou seu quarto devidamente organizados. Comum desenvolverem sobrepeso, e, o pior de tudo, não saberem o que é respeitar os pais. Não entenderem a posição de filho, querendo discutir em pé de igualdade e falar o que bem querem e entendem, rebatendo os argumentos ou ordens dos pais, quebrando as regras mínimas de obediência, respeito e consideração pela autoridade dos pais. Fazem expressões de “estou de saco cheio” ou as verbalizam. Às vezes aumentam a voz e até ameaçam os pais. Veem-se no mesmo nível de direito e competência com relação a sua opinião. Pensam que esta tem o mesmo valor – que pode até ocorrer excepcionalmente, mas o maior problema, é que não respeitam a autoridade dos pais. Em um extremo, observa-se o incremento dos crimes de matricídio e parricídio no país.
Já falei pra várias pessoas “não importa a qualidade dos nossos pais. Mesmo que sejam maus pais, devemos o respeito. Se não fossem eles, não existiríamos”. O fato é que na pior hipótese devemos a eles a nossa vida, a nossa existência. E caso tudo corra bem, aí a dívida dos filhos fica bem maior com seus pais: os vários anos dedicados aos cuidados fisiológicos e educativos, formativos. A troca de fraldas, a alimentação, as noites em claro, o ensinar a engatinhar, falar, dar os primeiros passos, todas as aprendizagens básicas de vida, a presença em tantas ocasiões especiais, os custos de escola e outros benefícios e tantas outras atenções. E depois de tudo, ver um filho desrespeitar um pai ou uma mãe, esta que ainda mais o carregou meses no ventre e deu de mamar por tantos outros meses, muitas vezes com complicações fisiológicas. Opor-se às determinações dos pais (desobediência aos pais), medir forças nos argumentos opinativos, achar que tem os mesmos direitos, impor vontades, sem falar em casos mais graves.  É simplesmente incompreensível. Às vezes, chocante.
E se o filho chega aos 60 anos de idade, e ainda é um privilegiado em ter um pai, e se o pai discorda de uma opinião deste filho, qual a postura?
Diante de todo o exposto, penso que o filho sempre poderá dar sua opinião, argumentar, explicar, mas jamais, desenvolver postura de maior autoridade, maior valor que o daquele que lhe deu a vida – o genitor, o responsável, o provedor. Que faça um exercício de paciência. Palavras-chaves: reconhecimento, gratidão. Filhos “respondões” sabem o que é isso? Infelizmente há casos que somente com a ajuda de um profissional a situação poderá se resolver.

Exceção: pais violentos. Entra aí em ação os profissionais – do serviço social, da psicologia, e, se for o caso, da polícia.