A cada dia testemunho mais
argumentações sem fundamento, sem logicidade. Chamou-me a atenção o verbete da
Enciclopédia da Conscienciologia “Argumentação ilógica” e o capítulo 151
“Consciências bélicas mentirosas” do livro Homo
sapiens pacificus (pg. 420). Ajudou-me a discernir melhor alguns
entendimentos empíricos. A título de curiosidade, vejamos algumas entre os 100
tipos de exemplos de das argumentações ilógicas e falácias citadas na referida
bibliografia:
Argumentum ad hominem. O
ataque pessoal, direto, formulado contra característica da pessoa defensora de
determinada tese, desqualificando-a e reduzindo a credibilidade do
argumentador. Trata-se de ataque a características pessoais, irrelevantes para
a veracidade da tese apresentada pelo oponente.
Argumentum ad nauseam.
Ocorre quando se credita maior probabilidade de algo ser verdadeiro em função
do número de vezes o qual é dito. É tentar persuadir pessoas não pela qualidade
da evidência em suporte da afirmação, mas pela constância da repetição.
Argumentum ad populum (Argumentum
ad numerum). Ocorre sempre quando se argumenta sobre ideia baseado no
apelo irrelevante da popularidade. Ênfase na tese de a opinião pública e
popular repousarem sobre fundo de verdade.
Argumentum ad verecundiam.
Este sofisma de autoridade apoia-se no fato de as pessoas aceitarem facilmente
as argumentações baseadas no prestígio de quem as anuncia. Utiliza-se a posição
social de alguém para chamar atenção e criar crenças coletivas. Argumento
dependendo do poder, riqueza ou popularidade de quem fala.
Amostragem seletiva. A apreensão de base de dados específica e a
comparação com dados mais genéricos levando a erros de avaliação.
Argumento do consenso. O argumento de defesa de serem as ideais e
opiniões da maioria as mais corretas e melhores para todos. Toda unanimidade é
perigosa.
Deificação. Tipo de raciocínio non
sequitur no qual a falta de compreensão de algo leva a argumentação e à
defesa de tratar-se de obra divina.
Jornalísticas. Métodos sutis de distorções midiáticas, com uso de
imagens de apelo emocional; isolamento de eventos do próprio contexto
histórico; personificação de realidades complexas; enfoques de pontos de vistas
dissidentes de modo a torná-los triviais.
Razão pelo forfaif.
Ocorre com presunção de superioridade sobre o assunto em pauta e a recusa ao
debate a partir da acusação de o opositor não estar apto porque não tem preparo
ou leitura de dados supostamente imprescindíveis, na verdade, irrelevantes para
tal discussão.
Síndrome booleana. Trata-se de representar o continuum apenas pelas extremidades. Consiste em dividir a série
inteira de opções exaustivamente em 2 extremos, depois em insistir na escolha
ser feita entre 1 ou outro extremo, sem levar em conta as demais alternativas.
Superficialidade espúria. Ocorre quando o adversário desvia-se do
assunto em debate utilizando-se de irrelevâncias, recusando a lógica e as
provas do contraditor. Não podendo lançar mão do conjunto do problema,
concentra-se sobre pequena parte orientando a refutação sobre fragmento
minúsculo, apenas o perceptível a ele.
Exemplificando
alguns incômodos que tenho tido com defesas em temas polêmicos, discorro alguns
deles, e suas respectivas argumentações ilógicas ou falaciosas. O primeiro foi
o incômodo de constatar que está se proliferando a defesa da “campanha
armamentista” no Brasil, a ideia indefensável de que a liberação do porte de
arma é uma coisa positiva. Argumentam em nome da “Liberdade” (!), que a
violência está aumentando, que é uma questão de segurança (!). É a Falsa correlação. A utilização de
correlações indevidas gerando afirmações equivocadas. Também incorre-se na
falácia da Reificação do possível
(hipóstase). Tomar possível efeito como certeza ao se fazer a avaliação de
determinada causa (Há duas vertentes: reificação do improvável e reificação do
existente). Basta ver o que acontece em países que têm liberação do porte de
arma – cresce a violência! O que faz as pessoas pensarem que todos poderem ter
porte de arma vai diminuir a incidência da violência, se a arma é instrumento
de violência? Na verdade, nem precisaríamos discutir nada disso, se a Educação
no país fosse de qualidade, incluindo uma formação cultural mais digna, social,
altruísta.
Outra ilogicidade
é a defesa da “Descriminalização do uso de drogas”. Uma vez ouvi uma professora
doutorada fazer esta defesa com o argumento dos “absurdos que um drogado passa
na cadeia ao ser preso somente por ser usuário”. Cai-se no clássico “Um erro
justifica um outro”. E na falácia da Negligência de consequências secundárias.
Considerar apenas os resultados imediatos de determinada ação, ignorando
efeitos de longo termo. Assim, esta defesa ignora o argumento de que este
drogado incorre em ato ilícito. Ignora as possíveis consequências de uma pessoa
drogada. Que em primeiro lugar atenta contra a própria saúde física e mental,
com possíveis sequelas degenerativas e custosas à sociedade, ao governo, à sua
própria família. E quem paga a conta dos resultados mais graves – acidentes,
assassinatos, delinquências – provocados pelos usuários? E tudo para ter um
patológico e desequilibrado estado alterado de consciência seja por fuga ou
hedonismo “barato”. Diria até que os argumentos defensores da Descriminalização
das drogas também caem na clássica falácia “Falsa correlação”.
Mais um grande
problema é a argumentação ilógica em defesa de tradições. Tradições que se
perpetuam às vezes por milênios e que por isso devem ser respeitadas. Isto se
chama Argumentum ad antiquitatem. A afirmação de algo ser verdadeiro,
bom e inquestionável apenas porque é antigo ou porque sempre foi assim. Mas tradições
que causam dor e sofrimento a outro ser vivo (touradas), ou ainda pior, ao ser
humano (infibulação, a burca, casamentos entre castas) deveriam ser execradas.
Nada que cause sofrimento, dano físico ou moral, a bens ou seres vivos podem
ser dignos de respeito, muito menos ante ao Argumentum
ad antiquitatem, “a cultura”, como se esta fosse sempre positiva, como se
não existissem verdadeiros idiotismos culturais, tema de outro artigo. Às vezes
usam também a falácia da “Funcionalidade”:
a argumentação de algo existir porque
"funciona", embora tal afirmação seja questionável ou ilusória. São
idiotismos culturais cruéis, truculentos e irracionais, que não acompanham as
mudanças e evoluções dos tempos, não contribuem em nada para a humanidade, ao
contrário, a mantém em estigmas, no atraso, e o pior, na crueldade indefensável
que destrói milhares de vidas.
Uma vez um colega
defensor de tradições me falou que as próprias mulheres defendiam. Perguntei
quantas. Esta é falácia da “Casuística”:
O rechaçamento de determinada generalização alegando exceções, na verdade, irrelevantes.
De fato existem vítimas tão lavadas cerebralmente, desde tenra infância, entre
outras manipulações que sofrem, que são capazes de fazer uma “defesa” (se não
fizerem, até são mortas). Mas porque esta minoria com razões questionáveis
deveria prevalecer aos argumentos lógicos, e se sobrepor à grande maioria de
pessoas da própria classe, mais racionais, revoltadas, indignadas e justificadamente
contra estas tradições?
As pessoas têm
total liberdade para apoiarem idiotismos culturais como o belicismo – encontram
justificativas ilógicas e falaciosas para defenderem as guerras em curso,
quando as verdadeiras razões são interesses econômicos, manipulações da indústria
bélica, e insanidades dos líderes de países em guerra. As pessoas transformam
assassinos em heróis, por exemplo, em nome da coragem que o policial teve de
dar tiros à queima-roupa, no ladrão que escapava. Ou o caso da presidente que participou de
várias ações criminosas, incluindo sequestro, e hoje é chamada de coração
valente (!) por ter sido torturada – talvez seja o caso do Argumentum ad consequentiam (valorações irrelevantes). Pretende
refutar tese (caráter violento/terrorista) ou plano apelando a consequências
irrelevantes para o objeto pretendente à demonstração (ter sido
torturada inocenta atos prévios?). Aliás, como já disse um pensador: ditadura e
radicais são as duas pontas de uma mesma ferradura. Vem à tona outra falácia
que abomino: “os meios justificam os
fins”.
E a defesa da
monarquia, da ditadura, da pena de morte, do regime comunista (existe comunismo
não ditatorial?). São tantas loucuras que têm sido postadas com defesas nas
redes sociais. Opiniões que certamente não passam por um crivo de
aprofundamento. Eu mesma gostaria de discutir cada um destes temas com maior aprofundamento.
Por isso não ouso justificar as razões que levam as pessoas a estas defesas de
ilogicidades. Tantas falácias e argumentos sofísticos, parciais, ideológicos,
emocionais, passionais, furados. Então fico no debate das ideias, não da
critica às pessoas. As hipóteses podem ser as mais diversas, as justificativas
ideológicas, o conhecimento incompleto e restrito, a falta de cosmovisão, a
falta de mundividência, a afetividade ectópica, o sadismo, o masoquismo, tantas
outras possibilidades. Trago então a falácia que apela para a “Complexidade”: A falsa atribuição a
conjunto de fatos específicos ser muito complexo para se chegar a simples
solução ou a diagnóstico ou afirmação de não existir resposta simples para o
caso. Complexidade não significa ininteligibilidade.
Reforço avaliar
com profundidade os argumentos de sustentação de defesa de idiotismos culturais
e tradições, sejam eles mais leves ou mais graves e atentar às ilogicidades e
falácias. Evidencia-se a importância de ampliação cognitiva e do discernimento.
A Educação configura-se como essencial. Estudo, pesquisa, leituras de
qualidade. O autoconhecimento idem, face a realidade de muitas opiniões
derivarem de processos patológicos e autodefensivos do ser. Acrescentemos a
importância do desenvolvimento da criticidade, da autocriticidade, e do
aprender a pensar.
“0 INTELIGENTE É MANTER POSTURA
HETEROCRÍTICA EM RELAÇÃO AS AFIRMAÇÕES PUBLICAS PEREMPTÓRIAS. QUALQUER NOTÍCIA ESPETACULAR TEM
CERTO PERCENTUAL DE MENTIRA, NO MÍNIMO, NA FORMA” (Vieira, 2007).
“A ARGUMENTAÇÃO ILÓGICA EVIDENCIA
A AUSÊNCIA DA RETILINEARIDADE DA INTELECÇÃO DA PESSOA, CARENTE DE MAIOR
AUTORGANIZAÇÃO DAS IDEIAS, REFLETINDO TAL FATO NA PRÓPRIA VIDA HUMANA.
Você reconhece logo os desvios do
próprio pensamento quando ilógico e busca retificá-los de imediato, ou teima em
sustentá-los de modo irracional? A maturidade mentalsomática já chegou, ou não,
até você?” (Vieira, 2012)
Referências:
Vieira, Waldo; Homo sapiens pacificus; 1.584 p.; 3ª Ed.
Gratuita; Associação Internacional do Centro de Altos Estudos da
Conscienciologia (CEAEC); & Associação Internacional Editares; Foz do
Iguaçu, PR; 2007.
Vieira, Waldo; Enciclopédia da Conscienciologia -
Eletrônica; EDITARES/CEAEC; 7ª ED.; 2012.