Recentemente fiquei atônita com o
comportamento em relação ao pai de dois queridos jovens que conheço. Jovens de
boa índole, saudáveis. Mas que pareceu que não conseguem entender a posição de
respeito aos pais. Fez-me refletir para entender o que se passou, fez-me
refletir na minha relação com meus pais (bem diferente) e pesquisar hipóteses
que explicassem tal comportamento. Dei-me conta que o respeito aos pais (para
mim) é algo tão intrinsecamente natural, lógico, inato, que tive dificuldades
em descrever o porquê deste respeito.
Pesquisei na internet “por que
respeitar os pais” e pra minha surpresa, tirando os links religiosos, não
encontrei quase nada. Recusei ler os argumentos religiosos, porque não me
interessa que este respeito seja porque Deus quer assim, porque seja um
mandamento, ou porque se não fizer assim você vai para um inferno. E,
frequentemente, certas “leis” religiosas, quando assertivas, não ditam mais que
o óbvio do que é adequado.
Li alguns artigos de
especialistas em educação, vi alguns vídeos. Chamou-me a atenção a explicação
do Içami Tiba (Quem Ama Educa), colocando que a geração passada foi tão
massacrada pela predominância autoritária dos pais, que resolvendo fazer
diferente com os próprios filhos, partiram para o extremo oposto, tornando-se
pais lenientes, permissivos. Sem impor limites aos filhos, muitos pais criaram
“príncipes”, crianças que tornam-se jovens sem noção de muitos valores nobres
do ser humano, de respeito, e com um alto nível de acomodação a terem as coisas
fáceis. Há várias outras causas explicativas para o desrespeito dos filhos aos
pais. O próprio desequilíbrio e conflito entre os pais, as sutis ou grosseiras
ações de alienação parental, os erros na educação, as distorções de valores, a
pouca cognição de pais e de filhos, que pouco leem/estudam e muito ficam nas
banalidades da TV, entre outros.
Falando genericamente, é cenário
comum, na classe média e mais abastada, o incomodo ou recusa a pegar ônibus,
mamãe ou papai tornam-se seus motoristas particulares, sendo às vezes os
próprios pais que fazem o padrão. Ano passado um colega me falou que buscava o
filho de 18 anos todos os dias na faculdade na hora do almoço. Sim, temos
tempos de maior criminalidade que 20-30 anos atrás, quando eu, ainda menor de
idade, trabalhava até 22h no shopping Recife e descia do ônibus na deserta avenida
Conde da Boa Vista para andar alguns quarteirões até em casa, passando das 23h.
Mas e aí? Vamos manter a redoma
nos filhos? Alimentando a cultura do medo, geralmente excesso de precaução?
Estarão eles preparados para a vida? Para o mercado de trabalho? Amplia-se o
nível de dependência, restringe-se a visão de mundo. E os pais que não têm
carro? Aliás, os pais sem carro são maioria neste país de grandes desigualdades!
É o paradoxo do excesso de zelo da minoria burguesa no Brasil.
É também cenário comum, não
colaborarem nas tarefas domésticas, não terem suas coisas ou seu quarto
devidamente organizados. Comum desenvolverem sobrepeso, e, o pior de tudo, não
saberem o que é respeitar os pais. Não entenderem a posição de filho, querendo
discutir em pé de igualdade e falar o que bem querem e entendem, rebatendo os
argumentos ou ordens dos pais, quebrando as regras mínimas de obediência,
respeito e consideração pela autoridade dos pais. Fazem expressões de “estou de
saco cheio” ou as verbalizam. Às vezes aumentam a voz e até ameaçam os pais. Veem-se
no mesmo nível de direito e competência com relação a sua opinião. Pensam que
esta tem o mesmo valor – que pode até ocorrer excepcionalmente, mas o maior
problema, é que não respeitam a autoridade dos pais. Em um extremo, observa-se
o incremento dos crimes de matricídio e parricídio no país.
Já falei pra várias pessoas “não
importa a qualidade dos nossos pais. Mesmo que sejam maus pais, devemos o
respeito. Se não fossem eles, não existiríamos”. O fato é que na pior hipótese
devemos a eles a nossa vida, a nossa existência. E caso tudo corra bem, aí a
dívida dos filhos fica bem maior com seus pais: os vários anos dedicados aos
cuidados fisiológicos e educativos, formativos. A troca de fraldas, a
alimentação, as noites em claro, o ensinar a engatinhar, falar, dar os
primeiros passos, todas as aprendizagens básicas de vida, a presença em tantas
ocasiões especiais, os custos de escola e outros benefícios e tantas outras
atenções. E depois de tudo, ver um filho desrespeitar um pai ou uma mãe, esta que
ainda mais o carregou meses no ventre e deu de mamar por tantos outros meses,
muitas vezes com complicações fisiológicas. Opor-se às determinações dos pais
(desobediência aos pais), medir forças nos argumentos opinativos, achar que tem
os mesmos direitos, impor vontades, sem falar em casos mais graves. É simplesmente incompreensível. Às vezes,
chocante.
E se o filho chega aos 60 anos de
idade, e ainda é um privilegiado em ter um pai, e se o pai discorda de uma
opinião deste filho, qual a postura?
Diante de todo o exposto, penso
que o filho sempre poderá dar sua opinião, argumentar, explicar, mas jamais,
desenvolver postura de maior autoridade, maior valor que o daquele que lhe deu
a vida – o genitor, o responsável, o provedor. Que faça um exercício de
paciência. Palavras-chaves: reconhecimento, gratidão. Filhos “respondões” sabem
o que é isso? Infelizmente há casos que somente com a ajuda de um profissional
a situação poderá se resolver.
Exceção: pais violentos. Entra aí
em ação os profissionais – do serviço social, da psicologia, e, se for o caso,
da polícia.
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