Escrevi esta resenha quando fiz a disciplina de Didática do Ensino SUperior, com o professor Marcos Feitosa, na UFPE em 2009. Foi a última de uma série de várias resenhas, e esta para fechamento das aprendizagens obtidas através do estudo de grande ícones da Educação. Escolhi meus favoritos e fiz este texto em formato de resenha, ressaltando pontos estratégicos do pensamento de cada educador citado. Compartilho agora, pois ao procura-lo no Blog pra encaminha para uma amiga, não encontrei :-)
Espero que gostem!
PROMISCUIDADE EDUCATIVA
Clara Emilie Boeckmann Vieira
Eu costumava manter-me na linha. Rata
de laboratório, em meio a publicações científicas, tradicionais. Ciência básica...
e ali ficava, com meus botões. Mas havia algo de errado. Havia uma incompletude,
constante turbilhão de pensamentos, frutos de taquipsiquismo nato. E não
podendo deixar de ser, eu era pura ansiedade. Ansiando não sei o quê!
Foi aí que conheci o Parker. Foi amor
à primeira vista. Ele combinava comigo em tudo! Sua proposta se encaixava na
grande importância que eu voltava ao autoconhecimento que, na minha opinião,
tinha que ser questão tão séria quanto a que propõe a Conscienciologia com sua
metodologia de Teoria e Prática da Autopesquisa. “Nós ensinamos quem nós
somos”, disse-me um dia. Então tenho que ser cada vez melhor, pensei! Com Parker
entendi porque eu gostava tanto de ensinar – “Nos tornamos professores por razões do coração, animados pela paixão
por um assunto e por ajudar as pessoas a aprenderem”
– conhecer-me e “ajudar”. Levar esta motivação de vida a outras pessoas, meus
alunos. Aprendi que é possível, e altamente positiva, uma verdadeira integração
com meus alunos, minha contribuição para a sociedade, na intenção de ajudar as
pessoas a se tornarem melhores, com uma aprendizagem não somente para a academia,
mas para a vida! Lá estava eu, cheia de amor pra dar!
Um dia conheci o Malcolm, com sua
proposta para pessoas mais maduras...Arrumei as malas e fui embora com ele. Mas
nunca esqueci o Parker Palmer, que era tão feliz pelo que fazia, que nem sentiu
minha falta. Com Malcolm, aprendi a reconhecer diferenças essenciais na
aprendizagem dos alunos “maduros”. “Vamos criar um clima agradável, aproveitar
nossas experiências anteriores, ser flexíveis”...Aha! Isso era garantia de um relacionamento
bem sucedido! Repensei alguns de meus métodos com meus alunos, elaborei novas
estratégias para ampliar sua motivação e nível de interesse. Veio um
amadurecimento da nossa relação, eu e meus alunos, eu e Malcolm. Mas eu e Malcolm
Knowles ficamos tão independentes, não aprofundamos nossa relação e acabamos
nos separando com uma conversa leve sobre buscarmos caminhos diferentes.
Foi quando conheci o Donald. Ele
falava em reflexão-na-ação. “Que
danado é isso?” Perguntei. E então um sentimento forte me dominou, posto que
com ele não tinha lero-lero. Tudo era vivenciado na prática, fazendo,
co-elaborando com dons e talentos, arte. Ele pedia que eu fosse sempre uma
pessoa reflexiva. Que eu exercitasse a espontaneidade, a improvisação. Mais Teática! Teoria e prática não se
separam! Lembrava-me a importância da aplicabilidade do conhecimento para
solucionar os problemas públicos! “Precisamos curar as cisões entre ensinar e
fazer, pesquisa e prática, escola e vida”. Para tanto, liberdade! Era tudo que
eu mais queria...Nossa relação era intensa, viva, rica!
Mas aí o Gadotti me apresentou ao
Paulo, a paixão mais arrebatadora da minha vida. Como perdi tempo! Nunca pensei
que aquele de quem eu tanto ouvia falar pudesse ser realmente tão excepcional. Ele
que estava tão pertinho de mim, sangue da mesma nação, brasileiríssimo melhor
que qualquer gringo! Paulo já falava em ecopedagogia! Ele me ensinou que
podemos ir além do aprendizado de conteúdos. Podemos reconstruir e transformar!
Podemos fazer um mundo melhor, vendo a educação como instrumento para o
desenvolvimento de pessoas melhores, como ato dialógico, como solução às
necessidades sociais, como Libertação.
Foi triste quando terminamos. Queria
tê-lo mais tempo ao meu lado. Mas foi preciso aceitar dividi-lo com as
outras... digo, os outros. Paulo era para o Mundo! E lá se foi ele... emprestei
para um colega, o meu Pedagogia da Autonomia, com todas as minhas anotações e
grifos...
Não pensem que estou só. Não fico só.
Tenho sempre um livrinho na vez, a fazer borbulhar meus pensamentos, bater mais
forte meu coração, a me provocar a elaborar reflexões, a investigar como as
suas estórias podem me ajudar a me tornar melhor e a colaborar para uma
sociedade melhor. O senso crítico está atento. Atento às relações do dia-a-dia,
à prática, às diferenças entre as pessoas, permitindo-me buscar vivenciar a
fraternidade, o universalismo, o respeito... bem, nem sempre, mas é preciso
tentar mais vezes... Ainda estou no time dos “eu sei de quase tudo um pouco, e quase tudo mal...” da Paulinha
Toler. Contudo, não há dúvidas. Eis a grande vantagem desta promiscuidade
educativa e intelectiva: uma contínua aprendizagem que dá gosto vivenciar e que
me esforço a levar, a quem eu possa tocar, trocar, ensinar, educar, amar.
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