Mais uma resenha para a disciplina que mais valeu à pena até agora na graduação de Psicologia. Mais um texto prolixo de Freud. Mas já aprendi a gostar dele. Realmente nos leva a refletir, posto que toca em assuntos polêmicos e apresenta opiniões provocadoras. Contudo, ainda tenho dificuldades com algumas abordagens. Talvez porque fizessem mais sentido à sua época e hoje já são pontos mais esclarecidos.
Outra coisa que incomoda é a falta de método científico nos textos que li – qual foi o universo amostral? Qual o tamanho da amostra? Qual o grupo de controle? Quais foram os resultados estatísticos e respectivos desvios? Minha formação em Engenharia e 12 anos de pesquisas acadêmicas não me permitem escapar de levantar estas questões.
O texto aborda questões relacionadas ao sexo e seus processos “patológicos”. Freud associa neuroses e outras doenças psicológicas a dificuldades sexuais, às vivências e identificações sexuais, marcadamente ocorridas na infância. Para tudo que foge do entendimento da “normalidade reprodutiva” do ato sexual, chama de perversão, e aos que possuem hábitos mais anormais (uso de cadáver, fetiches, os sádicos, os masoquistas, etc), usa termos como “monstros grotescos” e “aberrações”.
Partes do texto aparentam opiniões e inferências, sem maiores explicações sobre o que o levou a tais conclusões, marcadamente no que diz respeito às crianças. Por exemplo, no seu trecho “quando as crianças adormecem, após se haverem saciado ao seio, mostram uma expressão de bem-aventurada satisfação, que se repetirá, posteriormente na vida, após a experiência do orgasmo sexual. “ ou “Concluímos que os bebês têm sensações prazerosas no processo de evacuação da urina e das fezes, e que logo conseguem dispor destes atos de maneira que estes lhes tragam a máxima produção de prazer possível, através das correspondentes excitações das zonas erógenas da membrana mucosa”.
Também dá a entender que todo tipo de prazer é sexual. Neste ponto, questiono qual seria a definição do autor para sexual ou sensual. É mesmo referente aos genitais? Discordo de que toda fonte de prazer seja libidinal. E o prazer que nos traz o alcance de uma meta, ou olhar o mar numa tarde tranquila? A emoção de uma vitória nossa ou de alguém querido? A superação de uma dificuldade, ou a descoberta de novas paisagens magníficas num país longínquo... Provavelmente ainda não entendi a abordagem libidinal de Freud.
Porém, por enquanto, concordo que a questão sexual é extremamente essencial a vida dos seres humanos. Entendo, percebo e já estudei materiais psicológicos e científicos. Não me restam dúvidas quanto à importância da vivência sexual, desde que sadia, para o suprimento das necessidades físicas e afetivas das pessoas. Se ocorrem culpas ou sofrimentos, já podemos questionar se é sadia. O que acontece com as anomalias, infelizmente, é não suprir as carências da pessoa, trazendo prazer efêmero, patológico, gerando culpas e insatisfações íntimas. Freud não discorre neste sentido neste texto, mas evidencia a necessidade de investigação psicanalítica das pessoas, para solução de suas neuroses e psicoses, sempre, segundo ele, relacionadas à libido e definidas, quase sempre, na infância.
Preciso ler mais os textos de Freud, para melhor compreensão dos seus postulados, tendo o cuidado de identificar as suas limitações e os “desvios” derivados de seus padrões culturais, sua época, seus valores e suas crenças. Há um mundo a ser investigado – a intimidade do ser humano. A Conscienciologia e sua proposta de autopesquisa e abordagem multidimensional já me ajudou a entender bastante os percalços da evolução da consciência (indivíduo, self, ego, alma, espírito). Apesar de sua maior profundidade, penso que a Psicologia, ainda que limitada ao intrafísico, tem muito a enriquecer a compreensão das questões da consciência, para sua evolução.
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