“A sutil arte de ligar o fxda-se” tem sutis propostas perigosas... para a pessoa se fxxer.
Perdoem-me os
que gostaram do livro. E este artigo não é para criticar o livro em si. Mas o
fato de serem livros como estes que levantam as chuvas de críticas e condenações
às propostas de auto-ajuda, e pior, se juntam às fileiras dos auto-atrapalham. Estigmatizam os bons conteúdos para o
desenvolvimento pessoal das pessoas. O perigo se acentua quando o autor mistura
argumentos válidos com as falácias trazidas. A leitura deve ser sempre crítica,
alerta. Que o discernimento se imponha! O que é mais difícil para uma pessoa
que em crise, busca ajuda em um livro.
Chama a
atenção como a comunicabilidade manipuladora pode vender mais do que
eloquência, fatos, profissionalismo, embasamento científico e qualidade de
conteúdo. O apelo emocional
frequentemente se impõe e vende!
Claro que de tudo se extrai coisas boas, e é
verdade que alguns trechos são interessantes. É aí que mora o perigo.
Argumentos coerentes validando a competência do autor para outros totalmente
irracionais e até prejudiciais. Já no primeiro capítulo encontrei afirmativas
tão “desvirtuosas” que não consegui avançar a leitura além da página 38. Espero
que a partir daí não tenha mais absurdos. Pergunto-me se as promessas
fantásticas feitas a quem lê serão cumpridas.
Alguns trechos e ponderações - Dicas ótimas para uma vida de
fracassos:
1) “Já
percebeu que, às vezes, quando você se importa menos com alguma coisa, acaba se saindo melhor? Já notou que
geralmente é a pessoa menos empenhada que acaba se dando bem?”(p. 18)
De onde o autor tirou isso? De que
exemplos raros? Ao que esta opinião induz? Imaginemos
um jovem ou pessoa mais acomodada ao ler
uma afirmação destas? Olha o prejuízo na vida de alguém que acreditar neste
postulado! Os fatos demonstram o oposto! Existem milhares de exemplos e estudos
que provam: dedicação e empenho é o que gera resultados!
2) “Esses
momentos em que jogamos tudo para o alto são os mais decisivos na vida. As
maiores guinadas na carreira; a decisão espontânea de largar a faculdade e
formar uma banda de rock;(p. 20)”
Que insanidade é essa? Por
quantas exceções estas afirmativas foram construídas? Em quantos buracos –
depressão, doenças, crises, e até suicídios, as pessoas foram parar por
decisões instintivas de “chutar o pau da barraca”? Não se pode balizar uma
opinião assim por alguns casos raros, circunstanciais! Olha o perigo para
aquele jovem que só precisa de uma forcinha pra largar a faculdade “e ir atrás
de seu sonho” de maneira inconsequente, sem bases.
3) “Ficamos
putos se ninguém no trabalho pergunta como foi o fim de semana justamente
quando fizemos programas incríveis”. (p. 21)
O que temos
aqui? Você que me lê agora, experimenta isso? Que dependência é essa de lhe perguntarem e você precisar falar como
foi seu incrível final de semana? E você só tem programas incríveis nos dois
dias do final de semana? O autor vai na
contramão das abordagens de vida melhor, onde hoje, as pessoas buscarem
fazer com que o seu trabalho seja fonte de prazer, em razão de valores mais
nobres, ao invés de focar a diversão. Adulto não é criança.
Afirmações
que reúnem padrão de apologia ao prazer, aos impulsos imaturos, reunindo
argumentos egocêntricos e infantis. É verdade que tem horas que eu realmente
tive vontade de dizer “dane-se”, e “chutar o pau da barraca”. Felizmente o
racional falou mais alto. E com inteligência emocional, ajuda de profissionais
e amigos, e livros realmente bons, fui capaz de encontrar as soluções e as
bonanças após verdadeiras tempestades.
Nunca foi “ligando o fxda-se” que me
dei bem. Aliás, esta
é uma expressão que usamos e revela bem sua ardilosidade, indiferença em
relação aos outros, para aquele que liga o alerta do carro em situações
absurdas, ilegais. Uma vez uma senhora parou o carro literalmente no meio da
rua estreita, impedindo o fluxo dos carros, para buscar o filho na escola, 30m
à frente. Esperei longamente, com uma fila de carros atrás de mim, buzinando.
Biografia do autor na orelha – quem é esse cara? Um bonitinho
legal que mora nos Estados Unidos e tem um blog de sucesso. Escreve bem. Oi?
Estudou o que? Trabalhou em quê? Vivenciou o quê? Criador da “filosofia do
fxdx-se”. Por estas e outras os livros de autoajuda são tão criticados. Já foi
publicado um livro bem crítico sobre os mesmos. Vale ler o artigo sobre o livro
“O seu último livro de auto-ajuda”: https://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/849087-autoajuda-deturpa-psicologia-difunde-chavoes-e-prejudica-adeptos-diz-autor.shtml.
Cabe destacar
aqui uma diferença importante, de tema muito abordado na Psicologia, que é a
necessidade de aceitação – de
maneira muito consciente, trabalhada, discernida, equilibrada, racional. Não
pode ser confundida com a proposta do título do livro. Tal como tem livros de
autoajuda que levam a pessoa a reprimir as emoções para um suposto
autocontrole. Um excelente livro para aprender quando e como aceitar é o
Liberte-se de Kurt Harris. Leitura de qualidade garantida e excelentes lições
para uma vida melhor.
Sempre bom
priorizar leituras de qualidade, que ajudem e não atrapalhem a vida. Chequem indicações, críticas, e se puder, resultados na vida de alguém que mudou pra melhor graças a leitura.
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