quarta-feira, 25 de março de 2009

Consciencialidade X Espiritualidade

Aos poucos venho substituindo a palavra Espiritualidade por Consciencialidade em minha linguagem. A questão é que espiritualidade parece que sempre vai forçar uma ligação com "religiosidade", apesar do imenso abismo entre um conceito e outro. A definição dada por Boff, pegando carona na mensagem do meu amigo Luiz, o citando deixa bastante clara esta distância: "A espiritualidade não é monopólio das religiões, nem dos caminhos espirituais codificados. A espiritualidade é uma dimensão de cada ser humano. Essa dimensão espiritual que cada um de nós tem se revela pela capacidade de diálogo consigo mesmo e com o próprio coração, se traduz pelo amor, pela sensibilidade, pela compaixão, pela escuta do outro, pela responsabilidade e pelo cuidado como atitude fundamental".
Acrescentaria mesmo, que poucas religiões se propõem a realmente, e prioritariamente, estimular a espiritualidade... à despeito de seus interesses econômicos, políticos, sociais, de poderios e manipulações...
Não encontrei nada melhor que a conscienciologia, para desenvolver minha consciencialidade, na busca por lucidez, autodiscernimento, autossuperação e a verdadeira vivência do fraternismo, do universalismo e da cosmoética comigo e com os demais seres humanos.

Equilíbrio, metas e segurança. Assim se formam os executivos de sucesso. Resenha da reportagem Época Negócios 12/01/2009

Achei excelente a reportagem da Época Negócios de Janeiro/2009, que meu chefe me sugeriu. Todas as pessoas, profissionais liberais, funcionários públicos, homens de negócios, professores, donas de casa... Todos os seres humanos precisam estar atentos à uma questão crucial, que diz respeito não tão somente a equilíbrio, metas, segurança. Há uma questão que diz respeito a nossos valores. Sem o autodiscernimento sobre nós mesmos, jamais alcançaremos qualquer nível satisfatório de sucesso. Por isso costumo sempre criticar aquele livro, filme e promoção de "O Segredo" - o segredo para ter tudo o que você quer... Afinal, como você poderá ter certeza que a conquista de determinada coisa lhe trará felicidade, se você não sabe o que é que realmente é e quer? É ponto bastante batida a diferença em Ter e Ser. Infelizmente, somos bombardeados e manipulados e muitos se prendem à importância do Ter, por mais que vivenciem os fatos de que Ter não garante felicidade. Concordo porem que metas, equilíbrio e segurança são extremamente necessários. A diferença é feita pelos valores que os constroem. Por exemplo, qual a meta que me traria felicidade - uma TV LCD, ou uma rotina quinzenal de ir com pessoas queridas ao cinema, e depois comer uma pitza? Um carro importado, ou manter o uso do meu popular Uno Mille, e a diferença ser gasta em nas viagens de férias?
Vale à pena dar uma lida na reportagem. Abaixo, transcrevi alguns trechos que das entrevistas com pessoas "de sucesso" da reportagem. Finalizo com algumas colocações da expert em felicidade Sonja Lyubomirsky, com quem concordo quando pondera que vale mais à pena gastar com experiências, do que com bens materiais.

"Acho que as pessoas precisam ter causas. Sucesso é dar significado à vida"Luiz Eernesto Gemignani - PROMON
"O dinheiro tem uma importância de 100% na juventude e vem descendo com o amadurecimento , até uns 30%. Não menos que isso, porque ninguém faz supermercado com cartão de visita." Acácio Queiroz - Chubb Seguros
"Sucesso é conseguir alcançar o equilíbrio, a integridade do seu potencial, por meio de um trabalho que lhe satisfaça, que dê prazer e energize.... quero acabar meu dias numa fazenda, no mato... uma fazenda bacana, produtiva. Será o símbolo do meu sucesso."Sylvia Coutinho - HSBC
"Lidar com gente é fácil. Tudo o que você precisa fazer é desafiar, remunerar e celebrar." Jack Welch."Quando você desafia, a pessoa entrega. Quando entrega é remunerada. Mas se você não celebra, a conquista é efêmera. A celebração vai para o coração. Pode ser um almoço ou um chopinho." Carlos Alberto Júlio - TECNISA
"Duas coisas importantes na vida. Você tem de se encantar com o que faz, e com a pessoa com quem se relaciona. A segunda é ter projetos. A maioria dos projetos não se realiza. Mas é importante nunca deixar de tê-los, porque eles impulsionam. Com encanto e projeto têm-se a metade do caminho andado para o sucesso... Não tenho uma fórmula. Se tivesse, ia vende-la, e caro. Existe trabalho, dedicação e estar presente".Pedro Herz - Dono da Livraria Cultura

Sonja Lyubomirsky:"... você não deveria contar com o sucesso na carreira para que obtenha felicidade. Porque qualquer sucesso que obtenha, você se acostuma com ele e logo quer mais. Mas perseguir metas é importante e está associado com felicidade. Desde que a meta seja sua, e não da empresa ou da família....40% da sua felicidade é você que controla, pelo que você faz. 50% é por causa da genética e 10% são as circunstâncias da vida - remuneração, etc.Dinheiro: permite fazer coisas que deixa as pessoas felizes se ele for bem gasto. De preferência com experiências. Os americanos são famosos por querer ter o melhor carro, a melhor casa e maior televisão. Mas eles se adaptam a essas coisas e depois querem mais. Elas não trazem felicidade de verdade. Ao passo que quando se gasta com uma massagem, tomar um bom vinho, passar o tempo com amigos, isso te faz feliz."

quinta-feira, 19 de março de 2009

É preciso mais investimento na Consciência!

"Um jovem de 17 anos abriu fogo em uma escola de ensino médio em Winnenden no sudoeste da Alemanha, matando 16 pessoas, a maioria crianças."
É triste ler uma notícia dessas. Faço um esforço para conter exacerbação de meu psicossoma.
Não foi no Brasil, onde tantas mortes ocorrem a cada hora. Foi na ALemanha. "Primeiro Mundo". Pessoas supostamente mais evoluídas. Pessoas seguramente com melhores oportunidades culturais e educacionais.

Cadê o investimento na Consciência?
Com relação à ecologia, o planeta se deteriora mais e mais a cada dia. Hoje ouvi na CBN que várias indústrias em Pernambuco tem até 50% de seus gastos com energia elétrica... cadê a inteligência inclusive econômica, para investir em outras fontes energéticas... quanto mais pensar em nosso bem estar à longo prazo.

Cientísticas pesquisam soluções para tanta coisa. Mas tão pouco é investido na busca de soluções para o que se passa no âmago dos seres humanos, com suas pequenas e grande dores. Com seus pequenos e grandes desvios de conduta, a deteriorar o meio em que vivemos, das mais variadas formas, e em diferentes níveis. Cresce a violência em todos os cantos.Não posso deixar de expressar minhas reflexões.

Testemunhamos os mesmos padrões e comportamentos através dos tempos e em toda parte. Fica claro que as pessoas são as mesmas em quanlquer lugar do mundo. Em qualquer dimensão. Em qualquer tempo. Varia a intensidade e frequências. Porquê somos consciências em evolução através dos tempos. E a grande maioria se recusa a reconhecer esta realidade, afundando em equívocos, valores e priorizações erradas, desordens de toda natureza.

Quando é que o mundo vai acordar?Quando é que as pessoas vão perceber que é preciso mudar?Será que somente quando não mais restar outra alternativa?Quanto mais de dor, terror, deterioração será necessário para a mudança? Será que isso só ocorrerá quando todos estivermos no fundo do poço?
Lembro o chocante e deprimente "Ensaio de uma cegueira"...A humanidade vai ao "point of no return" por uma condição que se tivesse sido enfrentada de forma diferente, os impactos seriam mínimos. A arte imita a vida. Toda a miséria humana é trazida à situação da estória, que ao final, mostra que ainda há tempo de retomar a "civilização".
Mas do jeito que vamos, será que haverá esta possibilidade na vida real? Não posso manter meu otimismo para termos esta condição daqui a poucos 20 anos. Mas tenho otimismo realista de acreditar que é possível um mundo mais digno, com menos violência, mais coerência, mais ecologia - planetária e consciencial, se as pessoas começarem a perceber a importância de evoluírem consciencialmente.
Eu particularmente, consciencióloga, tenho o privilégio de já perceber a realidade multidimensional da consciência como ser eterno, buscando evoluir através de tantas existências. Não há como escapar desta prioridade evolutiva. Mas mesmo àqueles que só acreditam na "Matéria", precisam perceber que sua tão valiosa matéria encontra-se cada vez mais vulnerável, deteriorável.
Seja pela manutenção da evolução consciencial, seja pela manutenção da vida e do planeta, dos bens, dos serviços, da qualidade mínima de vida, pela limitada ética humana, e pela necessidade de exercício da cidadania, é preciso mudar - valores e atitudes.
Harambee!!

Seja feliz, menina!

Somente o título para tentar aliviar o peso deste artigo. Não gostaria de publicar tantos registros negativos, mas o texto de Miriam Leitão, de quem sou fã, nos dá oportunidade de profunda reflexão.

Por Miriam Leitão pelo 08 de março

Anoitece no dia da Mulher e este silêncio do blog não é falta do que dizer. É tristeza. O caso da menina de Recife foi devastador. Não, ninguém ignora quantas meninas são vitimas da violência em suas próprias casas. Os algozes são os pais, padrastos, pessoas que deveriam estar ensinando e protegendo. Os números são muitos, os casos que aparecem na imprensa são frequentes. Mas a menina de Pernambuco doeu mais.

Talvez por ter apenas nove anos, por estar sendo estuprada desde os seis, ou porque a chantagem do padrasto era que mataria a mãe. Ou talvez porque ela é bem pequena, menor do que deveria ser para a sua idade. A menina passou anos vendo a irmã também abusada. Só a mãe das duas nada via. O que acontece que cega as mães?

A menina de Recife lembra o quanto a luta da mulher será longa. Recentemente a Sharia, um código tribal brutalmente contra a mulher, foi restabelecida em todo o Paquistão. Acaba qualquer chance de que não aconteçam casos como a da escritora do livro Desonrada, Mukhtar Mai, que foi condenada a ser estuprada publicamente porque seu irmão de 12 anos teria olhado para uma mulher de casta "superior". O suplicio de Mukhtar, com estupro público e múltiplo, só não foi mais intenso que sua força de superação. A história dessa paquistanesa choca e emociona, mas a notícia de que a Sharia, que tinha começado a ser suprimida no Paquistão, volta a ser usada em todo o país é um choque. Penso em Mukhtar naquela pequena aldeia onde ela decidiu morar e resistir com uma escola para meninas e meninos.

Normalmente eu gosto de escrever nos dias oito de março, de quanto avançamos, mostrando estatísticas de conquistas, e de quanto falta avançar, mostrando as diferenças salariais, o pequeno percentual de mulheres no poder em qualquer país, as discriminações, mas aí... veio a menina de Recife.

Ela simplesmente me enfraquece. Que números de avanços levantar para compensar essa violência?

Eu penso nela diariamente desde o dia da notícia. Não pela polêmica da Igreja Católica, porque a Igreja não me espanta. Que ela excomungue o médico, as enfermeiras, a mãe pela decisão de interrupção da gravidez e que nada diga sobre o estuprador, não me surpreende. É apenas bizarro! Medieval.

Eu penso na menina de Recife e nos debates que tenho participado nos últimos anos, sempre em março. Nesses debates sempre discordo das mulheres bem sucedidas que dizem que a luta está ganha, que o feminismo é um movimento ultrapassado, ou outros equívocos assim. Eu, feminista, confesso, minha luta e meu espanto diante da incapacidade de ver o óbvio: que cinco mil anos de opressão não se acabam em poucas décadas, que há muito a fazer, a construir, a vigiar, para que haja algum dia respeito igual. Falta tanto para o dia em que poderemos dizer que o feminismo está superado!

Mas hoje, na verdade, eu penso apenas no futuro dela: a menina curará suas feridas? Conseguirá entender e processar a violência de que foi vítima? Vai estudar, ter carreira, filhos? Vai conseguir amar um dia? Escapará das teias da reprodução da pobreza? Vai simplesmente reaprender a brincar, como deve fazer uma menina de nove anos?.

Eu podia dizer que ela desperta em mim uma fúria feminista. E é verdade, mas é uma verdade incompleta. Ela desperta em mim o sonho de protegê-la de algum modo. De embalá-la docemente e contar uma história cheia de aventuras e graça. De cantar para ela uma cantiga de roda, de brincar de pique esconde em volta da casa. De ir com ela ao cinema e comer pipoca sentada no degrau de uma escadaria. Que tal um sorvete para resfrescar o calorão?

Não sei o que é. Mas por alguma razão eu penso insistemente na menina de Recife neste dia da mulher. Penso com o coração. Eu apenas sonho que suas feridas se cicatrizem um dia.

O discurso feminista, com estatísticas e fatos eloquentes, eu o farei outro dia. Hoje eu apenas quero sonhar que a menina de Recife um dia, apesar de tudo, após tanta violência, será feliz.