ALUNA: Clara Emilie Boeckmann Vieira
Aqui estou, em frente ao Netbook, com o desafio de escrever uma resenha sobre um controverso texto de Freud – Sigmund Freud, autor que há tantos anos repudiava, meio que instintivamente, ante seus postulados que pareciam-me redundar sempre em “todo problema psicológico é sexual” - provavelmente “Freud explica” esta minha aversão. Mas começo a entender o quanto fui injusta, apesar de ainda achar que suas propostas são limitadas... Haja petulância de uma aluna iniciante da Psicologia, né professora?
Minha tarefa porém é referir-me ao texto O mal estar da civilização. Ainda não o terminei mas na cabeça borbulham ideias e opiniões que precisava rapidamente transcrever. Espero ser menos prolixa que o ilustre autor. Discorro abaixo na forma de tópicos as principais ideias que mais me chamaram a atenção, ciente de que tenho que limitar-me a duas páginas.
1.Memória. A permanência do passado na vida mental, de como o ser humano é capaz de manter todos os registros de sua vida, e como estas memórias formam o ser humano.
2.Felicidade. O autor discorre sobre a busca incessante do ser humano pela felicidade (o sentimento “oceânico” mencionado por um amigo religioso é o disparador), apontando para a quase impossibilidade desta ser alcançada da forma desejada, continuamente. Elenca as principais fontes de sofrimento, e das quais o homem busca sofregamente escapar. Diz “Já a infelicidade é muito menos de difícil de experimentar”, e aponta as três principais fontes de infelicidade: o poder superior da natureza, a fragilidade do corpo humano, os relacionamentos com outros homens.
3.Contraponto. Em vários trechos, o autor é pessimista, argumentando a incapacidade dos esforços humanos anularem suas “desgraças”. Por esta razão, frequentemente me senti angustiada. Na minha pobre opinião, penso que é possível ser feliz, sim. Penso que a maior fonte de infelicidade, e que o autor ainda não mencionou até onde li, é a forma com a qual o homem encara a vida.
4.Personalidade. Assim, na minha opinião, a principal fonte de sofrimento do homem, reside nele mesmo, em seus valores, traços fardos e limitações. Trago à luz um antigo e precioso ditado: o pior inimigo do homem, é ele mesmo.
5.Religião. O texto questiona, de forma ácida, porém racional e bem fundamentada, o valor da religião para a felicidade do ser humano, demonstrando porém sua total incapacidade de cumprir com esta missão, no que concordo plenamente. Termos como infantilismo, delírio e intimidação da inteligência são bem empregados. Acho mesmo que a religião trouxe os piores malefícios da humanidade (guerras, assassinatos, violências mil) e continua sendo responsável por incontáveis atrocidades. Mesmo a mais simples propostas, pode trazer o terror da repressão, da subjugação, podendo levar a pessoa até a loucura.
6.Educação. Assim educo meus filhos: devemos ser bons, honestos, fraternos, eticos, universalistas não para merecer um reino prometido, ou não ser castigados, mas porque isso é o certo, e é o melhor pra todos nós. Para Freud, isso seria uma sublimação de instintos. Será que ele poderia acreditar em algo autenticamente nobre/altruísta por parte dos seres humanos?
7.Pessimismo. Freud aponta uma série de investimentos humanos, no desenvolvimento da civilização, para satisfação da felicidade do homem. Contudo, para cada item, aponta a sua incapacidade de atender a tal anseio. Por exemplo, ao falar dos avanços da medicina diz “de que nos vale uma vida longa se ela se revela difícil e estéril, e tão cheia de desgraças (...)”.
8.Alternativas. Além da religião (um delírio), menciona a arte (que gera “suave narcose”), a ciência, os avanços tecnológicos e o domínio da natureza, os avanços da medicina, o trabalho psíquico e intelectual, o amor, a higiene, a beleza, e até as drogas – a intoxicação – felizmente ele conclui que este também é um caminho insatisfatório. Apenas em determinado trecho, faz menção à importância do domínio dos instintos, exemplificando o uso de propostas orientais como o Ioga. Logo em seguida porém, argumenta que a satisfação de um instinto selvagem é incomparavelmente mais intenso.
9.Culpa. O autor finaliza destacando o sentimento de culpa “como o mais importante problema no desenvolvimento da civilização”. Fala da culpa não apenas do que efetivamente fazemos, mas também do simples propósito, e coloca este sentimento em dois extratos – o oriundo do medo da autoridade externa e outro da interna. Postula que qualquer tipo de frustração pode resultar numa elevação do sentimento de culpa.
10.Analogia. Freud traça um interessante paralelo entre o processo civilizatório e o desenvolvimento individual. Apesar de admitir suas limitações quanto ao assunto, destaca o quanto a felicidade do homem está ligada aos juízos de valor determinados pela sua comunidade.
11.Reflexão. De fato, devo admitir que o texto traz reflexões fundamentais da vida humana e da sua psique. Mas é recorrente o traço de uma visão pessimista da vida. O maior lampejo de lucidez que extraí, reside nesta frase: “todo homem tem que descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo”. E ainda destaca a importância de diversificar seus esforços na busca da felicidade.
12.Citação. Vale à pena transcrever trecho de suas conclusões, que pode trazer a conexão da civilização às suas propostas psicanalíticas: “A questão fatídica para a espécie humana parece-me ser saber se, e até que ponto, seu desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação de sua vida comunal causada pelo instinto humano de agressão e autodestruição.”
Na intenção de ser objetiva, talvez eu não tenha conseguido passar adequadamente minhas impressões e ter faltado em abordar algum tema, mas agradeço à professora Fabiana, por mais esta grande oportunidade de reflexão e aprendizagens, diante de tantas provocações propostas pelo texto, novas pra mim.
Questionologia:
1)Quais os seus recursos/técnicas para superar as dificuldades e encontrar a felicidade?
2)Qual a relação entre as abordagens dos processos individuais estudados por Freud e o processo de desenvolvimento civilizatório?
2 comentários:
Gostei do texto e me ajudou a escrever minha própria resenha desafiadora a respeito do "mal estar da civilização e o Futuro de uma ilusão".
Olá Clara, sua resenha me ajudou a entender ''O mal estar da civilização" de Freud, sou pós-graduando em Psicopedagogia, e aquela frase que diz que ''Freud explica" não faz sentido, deveria ser Freud complica.
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