Clara, reflexões sobre o livro Desonrada, em 27.02.2011
Terminei de ler o livro Desonrada. Ainda estou em choque. Seja pelo acoplamento à história verídica, seja pela indignação ante à ilimitada degradação humana. Mukhtar Mai, sofreu estupro coletivo, aprovado pela Jirga (conselho tribal) de sua aldeia. O motivo: seu irmão, de apenas 12 anos de idade teria dirigido a palavra a uma mulher de 27 anos, de uma casta superior à sua. O garoto também foi espancado e sodomizado. Mas por seu crime de honra, sua irmã, Muktah foi condenada a sofrer o estupro coletivo. O prefácio de Miriam Leitão resume o drama e o livro discorre o caso, a coragem, o enfrentamento de uma mulher simples, analfabeta, contra todo um sistema social-cultural-religioso patológico.
Uma outra paquistanesa, casada, mãe de uma menina de dois anos, grávida de um bebê de dois meses, foi sequestrada sob as vistas de seu marido rendido por um revolver na cabeça. Motivo: ele recusou-se a continuar recebendo certo vizinho que vinha frequentemente ter refeições em sua casa. A vingança, em sua esposa, prática comum é vingar-se na mulher, durou dois meses em que esta ficou presa em uma cela, servida de água e comida como a um cão, sendo diariamente violada por diferentes homens que vinham servir-se dela. Todos os criminosos permanecem impunes, até a data de publicação do livro, em 2005.
Receio buscar fontes recentes quanto ao desfecho do caso de Muktah Mai, e mesmo que tenha sido feita justiça, é uma entre milhares de casos. No Paquistão, como em vários outros países, a mulher vale menos que uma cabra. Não tem direito à escolhas, opinião, nem sequer de voz. Frequentemente, vítimas de toda sorte de violência – psicológica, estupro, espancamento, ácido, morte. A evolução caminha lentamente.
Em outros países, poderíamos culpar o país, a cultura e/ou a religião. Mas a verdade é que somente os níveis subumanos de consciência explicam as atrocidades cometidas contra as mulheres, neste caso, bem documentadas, no Paquistão.
Como tudo o que critico, esforço-me para identificar como posso colaborar para a causa feminista, para acabar com a violência contra as mulheres – no Paquistão, ao redor do mundo, no Brasil, na minha cidade, no meu meio... A única coisa que me ocorre neste momento, contudo, é alertar os que estiverem ao meu alcance quanto a esta realidade, que façamos uma corrente,esclarecendo a gravidade da questão, que não deixemos ninguém calar, e, no mínimo, educar os meus filhos. Lembrando que não importa a dimensão, pequena ou grande, nem o tipo – físico ou psicológico, da violência. Não deve haver espaço para nenhum tipo de violência. Por isso encaminho esta mensagem com o pedido de que divulguem a todos esta causa, para que todos possam refletir e estar atentos a como contribuir para superar a violência contra as mulheres. Se alguém tiver uma boa ideia, conte comigo.
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