Em tempos de planejamento para o futuro, nada como ler um livro que mostra como a Paz pode e deve ser construída pela iniciativa de seres humanos. Wangari Maathai foi prêmio Nobel da Paz em 2004. Liderou o Movimento Cinturão Verde e lutou pela democracia e dignidade de seu povo no Quênia. Nascida em comunidade do povo quicuio, estudou e tornou-se bióloga e professora universitária. Mãe de três filhos foi presa e ameaçada de morte. Em Inabalável, descreve sua impressionante autobiografia, com elegância e austeridade tocantes, sem dramatizações, sem autovitimizações. Um livro que nos impressiona e nos mostra que podemos, e nos motiva a querermos, fazer algo pela sociedade e pelo mundo em que vivemos. Coragem, perseverança, tolerância e serenidade são traços fortes desta consciência que não por acaso, recebeu tantos prêmios de reconhecimento pelo seu incansável e inabalável trabalho. Vale a pena a leitura de sua autobiografia completa.
Wangari nasceu em 1o de abril de 1940. Teve excelente infância, dentro da cultura do povo quicuio, vivendo da agricultura familiar. A educação nas tradições quicuias ajudaram em sua formação. “O que eu sei, agora, é que meus pais me criaram num ambiente que não propiciava medo ou insegurança. Pelo contrário, eu tinha muitas razões para sonhar, ser criativa.”
Wangari também fala de seu povo, sua cultura, sua família, sua vida afetiva. É um exemplo de ser humano e de cidadã do mundo. Demonstra a importância do respeito ao meio ambiente, da sustentabilidade, do equilíbrio ambiental. “Aprendi que havia uma relação entre o sistema de raízes da figueira e os lençóis de água. As raízes se enfiavam no solo, abrindo caminho entre as pedras que ficavam abaixo da superfície e mergulhando então na água contida no subsolo. Esta subia pelas raízes até encontrar uma depressão ou um ponto fraco no solo, e aí brotava sob a forma de fonte (...) O respeito da comunidade pela figueira, ajudava a preservar o riacho (...) as árvores também davam firmeza ao solo, evitando a erosão e deslizamentos (...) essas práticas culturais e espirituais contribuíram para a preservação da biodiversidade.”
A idealização do Movimento Cinturão Verde surgiu pela busca de soluções para o estado de degradação ambiental que o Quênia apresentava. A ideia de plantar árvores proveria madeira para as mulheres prepararem alimentos, material para construção de cercas e forragem para os rebanhos, sombra para os homens e animais, protegeria os lençóis freáticos, e firmaria o solo e se fossem frutíferas, produziriam alimento.
Desde suas primeiras tentativas por melhores condições para o povo queniano, começou a sofrer represálias – do governo, da sociedade elitista em que vivia, e até de seu próprio marido. Parte da cultura local revelava primitivismo. “Ninguém tinha me avisado – e nunca me passou pela cabeça – que, para o nosso casamento sobreviver, eu deveria fazer de conta que não era bem sucedida e negar os talentos que Deus me deu.” Divorciou-se, teve as primeiras possibilidades de concorrer ao Parlamento, eliminada, perdeu sua casa, o cargo na Universidade de Nairobi, única do país e controlada pelo Governo.
Por várias páginas Wangari descreve muitas das contestações a respeito de diversas ações corruptas do governo. Enviou cartas ao governo, mobilizou pessoas por diversas causas. Foi presa várias vezes injustamente. E até sofreu violência da polícia queniana. Mas Wangari foi forte e determinada. Com coragem e persistência enfrentou as dificuldades e conseguiu movimentar várias pessoas contra projetos e ações irregulares do governo ditatorial. Recebeu apoio da mídia e de diversas organizações internacionais, que passaram a investir no Movimento, que fez história e acabou lhe dando o Nobel. “Nas eleições de 2002, quando foram abertas as urnas da primeira eleição livre e limpa do Quênia (...) fiquei estarrecida e gratificada ao constatar que eu tinha sido eleita para o Parlamento com 98% dos votos válidos (...). Foi uma época maravilhosa para o Quênia. Depois de 24 anos de lutas, de prisões, espancamentos e insultos, mas também de determinação, perseverança e esperança, tínhamos enfim nos unido e, naquele dia de dezembro, podíamos proclamar com o maior orgulho: "Nós conseguimos mudar o Quênia. Trouxemos de volta a democracia! E fizemos isso sem derramamento de sangue.”
A história de Wangari indica que ela nasceu com um propósito maior de vida. Segundo a Conscienciologia, somos consciências em evolução, através de várias vidas e, alcançando determinado nível de maturidade, viemos a cada nova vida com uma programação existencial. Esta programação considera nossos traços pessoais, conquistas evolutivas que nos preparam para tarefas mais ou menos elaboradas, de acordo com nossa capacidade.
“As árvores foram parte essencial da minha vida e me ensinaram muitas lições. Elas são símbolos vivos de paz e esperança. Uma árvore tem suas raízes no chão e, mesmo assim, se ergue para o céu. Ela nos diz que, para ter qualquer aspiração, precisamos estar bem assentados e que, por mais alto que possamos chegar, é de nossas raízes que tiramos nossa base de sustentação.” (p.347)
A história e as palavras da autora já falam por si. Amplio apenas um pouco mais, sob o enfoque conscienciológico. Para mim, nossas raízes, de onde viemos, dizem respeito a nossa origem multidimensional. Do que consta em nossa ficha evolutiva, nossa essência integral, consciências milenares que somos. As palavras da autora trazem preciosos conceitos conscienciológicos, relacionados ao Universalismo, à Cosmoética (ética que vai além da humana, respeitando a tudo e a todos os seres). Falam de Maxifraternidade, de coragem, de autoenfrentamento, apesar dos trechos emotivos. Wangari nasceu em uma tribo africana, morava em casa de chão batido. Tornou-se Doutora, Professora, parlamentar, defensora da ecologia e dos direitos humanos. Uma existência exemplar, e consciencialmente evolutiva, indicadora de que realmente veio com uma “missão de vida”, uma vida planejada.
Referência: MAATHAI, Wangari. Inabalável memórias. Nova Fronteira, 2007.
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