sábado, 18 de janeiro de 2020

A perda de noção da realidade por parte dos políticos


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Há um tempo atrás fiquei triste com as falas de um amigo do bem. Para mim, sempre bom ouvir outras perspectivas a respeito dos fatos, e por isso também pretendo entregar a ele este texto, pois o tempo foi apertado e não podíamos conversar com maior profundidade.

Três argumentos dos quais discordo foram trazidos:

      1)     Na “Lei de abuso de autoridade” há lógica em o policial se identificar para o bandido no momento de prendê-lo; falou que já foi policial (há mais de 23 anos atrás), e que o bandido que é preso porque cometeu crime não vai querer se vingar do policial (questionável), a não ser que seja espancado, que é o problema da Polícia (todos?);

      2)     É justo o acusado responder em liberdade até que haja comprovação absoluta das provas dos crimes em juízo! Perguntei o caso do estuprador. Resposta: sim... pois afinal, a mulher pode acusa-lo mentindo (!); O que dizer de um pedófilo, responder em liberdade, e na velocidade da justiça brasileira.

      3)     A liberdade deve ser dada a todos (OK, vírgula – a liberdade de um acaba onde começa o direito do outro). Falamos do ponto polêmico do aborto. Para ele, somente os pobres não tem esse direito, pois os demais, basta pagar que consegue fácil, como ir pra Portugal e pagar R$2.000.
Fácil? A maioria não tem noção do drama que é um aborto – legalizado ou não. Em relação a este ponto, nunca pensei numa possibilidade como esta de ida a Portugal para abortar. Nem sabia que seria tão “simples” pagar em Portugal, um aborto. Será? Ademais, o valor, com passagens, hospedagens, etc, ainda seria para uma microminoria brasileira. E diante de uma população sem uma educação de qualidade mínima, podemos estimar que o percentual de grávidas na infância e adolescência, certamente cresceria exponencialmente, já que poderia abortar! E pensemos: hospitais públicos onde hoje morrem milhares por falta de atendimento, comportariam os incontáveis abortos? Não dão conta de salvar vidas, teriam condições realizar os abortos?

Medidas idealizadas precisam considerar a viabilidade no contexto real. E para conhecer o contexto real, é necessário ir lá. Presenciar.

Contrapontos apresentados, para os quais estou convidando o amigo para uma conversa com tempo para o exercício do pensamento crítico, restou-me um ganho adicional. Além das reflexões e fortalecimento dos meus valores e ideias: a hipótese destas visões parciais, distanciamento da realidade, como um dos problemas dos políticos “do bem” lá em Brasília. Não conhecem a realidade do povo. Não sabem a verdade que se passa na mente e na vida das pessoas.

Daí surgem os comentários, propostas e decisões descabidas, ou insuficientes, descoladas da realidade. Daí também se justifica a inércia, o atuar parcamente, alheios aos incontáveis dramas em que perdem a chance de resolver, se realizassem seus papéisl de representantes do povo. Sabemos também que não é fácil irem no contrafluxo de uma maioria desonesta.

E se os do bem são inefetivos, o que dizer dos que só pensam nos seus interesses? É o Brasil carente de políticos, onde a maioria das centenas de homens vestidos de pinguins, nas cadeiras de supostos representantes do povo, representam apenas aos seus interesses. Nem fazem o mínimo que lhes cabe, e ainda gastam, drenam, milhões de reais dos cofres públicos.

Eis o preço do isolamento em Brasília. É sempre essencial a interação nas comunidades carentes. As visitas, os diálogos, o conhecimento da realidade em que vive a grande maioria na injustiça social de nosso país.

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