Há um tempo atrás fiquei
triste com as falas de um amigo do bem. Para mim, sempre bom ouvir outras
perspectivas a respeito dos fatos, e por isso também pretendo entregar a ele
este texto, pois o tempo foi apertado e não podíamos conversar com maior
profundidade.
Três argumentos dos quais
discordo foram trazidos:
1) Na “Lei de abuso de autoridade” há lógica em o
policial se identificar para o bandido no momento de prendê-lo; falou que já
foi policial (há mais de 23 anos atrás),
e que o bandido que é preso porque cometeu crime não vai querer se vingar do
policial (questionável), a não ser
que seja espancado, que é o problema da Polícia (todos?);
2) É justo o acusado responder em liberdade até
que haja comprovação absoluta das provas dos crimes em juízo! Perguntei o caso
do estuprador. Resposta: sim... pois afinal, a mulher pode acusa-lo mentindo (!); O que dizer de um pedófilo,
responder em liberdade, e na velocidade da justiça brasileira.
3) A liberdade deve ser dada a todos (OK, vírgula – a liberdade de um acaba onde
começa o direito do outro). Falamos do ponto polêmico do aborto. Para ele,
somente os pobres não tem esse direito, pois os demais, basta pagar que
consegue fácil, como ir pra Portugal e pagar R$2.000.
Fácil? A maioria não tem noção do drama que é um aborto – legalizado ou
não. Em relação a este ponto, nunca pensei numa possibilidade como esta de ida
a Portugal para abortar. Nem sabia que seria tão “simples” pagar em Portugal,
um aborto. Será? Ademais, o valor, com passagens, hospedagens, etc, ainda seria
para uma microminoria brasileira. E diante de uma população sem uma educação de
qualidade mínima, podemos estimar que o percentual de grávidas na infância e
adolescência, certamente cresceria exponencialmente, já que poderia abortar! E
pensemos: hospitais públicos onde hoje morrem milhares por falta de
atendimento, comportariam os incontáveis abortos? Não dão conta de salvar
vidas, teriam condições realizar os abortos?
Medidas idealizadas
precisam considerar a viabilidade no contexto real. E para conhecer o contexto real, é necessário ir lá. Presenciar.
Contrapontos apresentados,
para os quais estou convidando o amigo para uma conversa com tempo para o
exercício do pensamento crítico, restou-me um ganho adicional. Além das
reflexões e fortalecimento dos meus valores e ideias: a hipótese destas visões
parciais, distanciamento da realidade, como um dos problemas dos políticos “do
bem” lá em Brasília. Não conhecem a realidade do povo. Não sabem a verdade que
se passa na mente e na vida das pessoas.
Daí surgem os comentários,
propostas e decisões descabidas, ou insuficientes, descoladas da realidade. Daí
também se justifica a inércia, o atuar parcamente, alheios aos incontáveis dramas
em que perdem a chance de resolver, se realizassem seus papéisl de
representantes do povo. Sabemos também que não é fácil irem no contrafluxo de
uma maioria desonesta.
E se os do bem são inefetivos,
o que dizer dos que só pensam nos seus interesses? É o Brasil carente de
políticos, onde a maioria das centenas de homens vestidos de pinguins, nas
cadeiras de supostos representantes do povo, representam apenas aos seus
interesses. Nem fazem o mínimo que lhes cabe, e ainda gastam, drenam, milhões
de reais dos cofres públicos.
Eis o preço do isolamento
em Brasília. É sempre essencial a interação nas comunidades carentes. As visitas,
os diálogos, o conhecimento da realidade em que vive a grande maioria na
injustiça social de nosso país.
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