sábado, 4 de janeiro de 2020

Palavra controversa: autoimperdoamento


Continuo achando cosmoética a premissa da pessoa saber perdoar a si mesma. E importantíssimo o autoperdão.

Autoimpedoar-se é sinônimo de não se perdoar. Soa bem pra você? Se devemos perdoar os outros, porque não perdoar a nós mesmos? Não perdoar a si, insinua uma autocobrança exigente, excessiva, nosográfica. Se não posso me perdoar, como vou me sentir bem com relação a mim mesma?

Entendo que o Prof. Waldo Vieira, ao propor o neologismo, quis dizer que autoimperdoamento tem a ver com não errar mais, com um “movimento de correção, como disse a verbetógrafa do Binômio imperdoador-heteroperdoador. Claro que não é evolutivo ser condescendente com os próprios erros, não buscar corrigi-los ou se corrigir, mas não considero a palavra adequada, pois autoperdão não é sinônimo de passar a mão na própria cabeça, ou se permitir errar novamente. A pessoa pode sim, se perdoar, e compreender que errou, buscar corrigir, se melhorar, resolver o problema que causou. A palavra autoimperdoamento se associa a ideia de autocondenação, ou no mínimo, culpa.

Por definição, perdoar significa desculpar, absolver, relevar, poupar, escusar (sinônimos do Dicio online). Estas são medidas sadias para consigo! Para mim, perdoar a si mesmo é coerente com perdoar aos demais. E se o erro já traumatizou a pessoa, muitas vezes, uma tormenta já está instalada. Tendo a pensar que uma pessoa que não se perdoa, terá dificuldade de perdoar aos outros, poderá se sentir culpada, ou insatisfeita consigo mesma.

Se a pessoa já compreendeu o seu erro, e busca corrigir, porque o uso do termo autoimperdoamento?

Em síntese, acho que foi uma má escolha este neologismo. Associaram autoperdão, equivocadamente, a antievolutivo, a não se permitir corrigir o erro, a permanecer estagnado, o que não é fato obrigatório.

Não é incompatível se perdoar e investir na autocorreção, autoevolução. Paradoxalmente, é premissa para evoluir, a autoaceitação, o autoafeto, e estes envolvem se perdoar, sim, assim como devemos fazer na vivência do heteroperdão.

É clara a intenção de firmar a importância de buscar se corrigir ao errar, mas daí a querer chamar isso de autoimperdoamento, na minha opinião, não foi uma boa ideia. Não cola nem semanticamente, nem ideativamente.

Assim, o termo se queda ambíguo, polêmico, leva a incompreensões, e não se sustenta na proposta de seu significado.

Sugestão de nova nomenclatura: autoperdoamento cosmoético.

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