segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

INABALÁVEL – MEMÓRIAS, WANGARI MAATHAI – Trechos e comentários

Em tempos de Natal e planejamento para o futuro, nada como ler um livro que mostra como a Paz pode e deve ser construída pela iniciativa de seres humanos.

Wangari Maathai, foi prêmio Nobel da Paz em 2004. Liderou o Movimento Cinturão Verde e lutou pela democracia e dignidade de seu povo no Quênia. Nascida em comunidade do povo quicuio, estudou e tornou-se bióloga e professora universitária. Mãe de três filhos, foi presa e ameaçada de morte. Em Inabalável, descreve sua impressionante autobiografia, com uma elegância e austeridade tocantes, sem dramatizações e autovitimizações. Um livro que comove e impressiona, e nos mostra que podemos, e nos motiva a querermos, fazer algo pela sociedade e pelo mundo em que vivemos. Coragem, perseverança, tolerância e serenidade, são traços fortes desta consciência que não por acaso, recebeu tantos prêmios de reconhecimento pelo seu incansável e inabalável trabalho. Wangari também fala de seu povo, sua cultura, sua família, sua vida afetiva, demonstrando ser exemplo de ser humano e de cidadã do mundo.

Vale à pena a leitura de sua autobiografia completa. Os trechos abaixo foram transcritos do seu livro e também dos trechos dele resumidos na revista Cláudia No. 1, Ano 47,p. 90 e 91- Planeta Sustentável. Em itálico, minhas inserções.

(...) Wangari nasceu em 1o de abril de 1940. A geração que precedeu seu nascimento por conta da colonização inglesa, teve substituído tudo que representava a cultura local por outra, análoga à européia. Teve excelente infância, dentro da cultura do povo quicuio, vivendo da agricultura familiar
. “ O que eu sei, agora, é que meus pais me criaram num ambiente que não propiciava medo ou insegurança. Pelo contrário, eu tinha muitas razões para sonhar, ser criativa... p. 37

Meio ambiente. Aprendi que havia uma relação entre o sistema de raízes da figueira e os lençóis de água. As raízes se enfiavam no solo, abrindo caminho entre as pedras que ficavam abaixo da superfície e mergulhando então na água contida no subsolo. Esta subia pelas raízes até encontrar uma depressão ou um ponto fraco no solo, e aí brotava sob a forma de fonte... O respeito da comunidade pela figueira, ajudava a preservar o riacho... as árvores também davam firmeza ao solo, evitando a erosão e deslizamentos... essas práticas culturais e espirituais contribuíram para a preservação da biodiversidade. P. 68

As histórias quicuias refletem o meu meio e os valores do meu povo; elas me preparavam para a vida na minha comunidade. P. 73

... sempre me interessei por buscar soluções... Mais vale pensarmos no que pode ser feito do que ficarmos nos preocupando com o que não podemos fazer... O que me ocorreu foi “Por que não plantar árvores?”. As árvores dariam madeira para as mulheres prepararem alimentos...material para construção de cercas e forragem para os rebanhos... sombras para os homens e animais, protegeriam os lençóis freáticos, firmariam o solo e se fossem frutíferas, produziriam alimento. P 160

Desde suas primeiras tentativas por melhores condições para o povo queniano, começou a sofrer represálias – do governo, da sociedade elitista em que vivia, e até de seu próprio marido.

...Ninguém tinha me avisado – e nunca me passou pela cabeça – que, para o nosso casamento sobreviver, eu deveria fazer de conta que não era bem sucedida e negar os talentos que Deus me deu. P . 176

Resolvi, porém, assumir essa atitude: se você deu o melhor de si em alguma coisa e, mesmo assim, não funcionou, então, o que mais pode fazer? Nada.... Falhar não é crime. O importante é que, se falhar, você tenha energia e vontade para se levantar e ir em frente. P. 180

Durante esse período tão difícil, meus filhos eram a única razão para eu me levantar pela manhã e continuar trabalhando... Foram aquelas três crianças que me ajudaram a não desmoronar: ainda tinha que leva-las à escola, garantir que tivessem comida e roupa, e pagar as despesas escolares. Se não fosse pelos meus filhos, a minha vida teria se tornado um imenso vazio. P. 189

Sempre encarei qualquer fracasso como um desafio que me impulsiona a se­guir em frente.(...) Embora o meu casamento houvesse terminado, a minha possibilidade de concorrer ao Parla­mento tivesse sido eliminada e eu ti­vesse perdido o meu trabalho e a mi­nha casa, eu ainda era a d iretora-geral do Conselho Nacional das Mulheres do Quénia - N C W K (sigla, em inglês, da instituição) e continuava a desenvolver o Movimento Cinturão Verde. (...) Sabia que nunca mais conseguiria um cargo na Universidade de Nairobi, que, na época, era a única do país. Ela era con­trolada pelo governo e eu tinha entrado em atrito com a ordem instituída.(...) Por sorte, nesse mesmo ano surgiu uma chance que mudaria o rumo de minha vida e o futuro rio Movimento Cinturão Verde (...)
Uma tarde, em 1982. eu estava no escritório do NCWK tratando das minhas tarefas habituais quando um homem branco e alto entrou. (...) Ele me disse que se chamava Wilhelm Elsmd e era diretor executivo da Sociedade Florestal da Noruega (...) Conversamos sobre as atividades do Movimento Cinturão Verde e lhe mos­trei vários viveiros de árvores. (...) O resto, como sabem, é história. Acabei não procurando outro emprego, pois fortalecer e expandir o Movimento se tomou o meu tra­balho e a minha paixão. (...) A primeira verba substan­cial veio do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (...): 122.700 dólares. Nunca na vida tinha visto tanto dinheiro! (...)

...sentia que as pessoas precisavam entender que o governo não era o único culpado. Os cidadãos também desempenhavam um papel importante nos problemas identificados pelas comunidades. Em primeiro lugar, porque não defendiam aquilo em que acreditavam realmente e não exigiam que o governo lhes desse isso. Além do mais, ninguém defendia o que possuía. P. 213

Por muito tempo, Wangari descreve muitas das contestações a diversas ações corruptas do governo...Enviou cartas ao governo, mobilizou pessoas por diversas causas. Foi presa várias vezes injustamente. E até sofreu violência da polícia queniana. Mas conseguiu movimentar várias pessoas contra projetos e ações irregulares do governo ditatorial. Recebeu apoio da mídia e diversas organizações internacionais.

Mais uma vez. estava atras das grades (...). Passei um dia e uma noite tentando dormir no chão (...) em meio a água e sujeira. (...) A diferença da primeira vez que fui presa, não tinha agora eol?eilor e estava sozinha na cela. Também tinha 52 anos, artrite nos dois joelhos e sofria de dores nas costas. (...) Chorando de dor e enfraquecida peia fome. tive de ser carregada até o tribunal (...) As pes­soas ficaram chocadas ao ver que eu sequer conseguia ficar de pé para a leitura das acusações.

As eleições seriam em 2002, e havia for­tes indícios de que, finalmente, o presi­dente Moí deixaria o poder. (...) Quando foram abertas as urnas da primeira elei­ção livre e limpa do Quénia (...) fiquei estarrecida e gratificada ao constatar que eu linha sido eleita para o Parla­mento com 98% dos votos válidos (...). Foi uma época maravilhosa para o Quénia. Depois de 24 anos de lulas, de prisões, espancamentos e insultos, mas também de determinação, perseverança e esperança, tínhamos enfim nos unido e, naquele dia de dezembro, podíamos proclamar com o maior orgulho: "Nós conseguimos mudar o Quênia. Trouxemos de volta a democracia! E fizemos isso sem derramamento de sangue.

No dia 8 de outubro de 2004, pela manha, eu estava indo de Nairobi a Tetu, meu distrito parlamentar, para uma reunião. De repente, meu celular tocou. (...) Era Ole Danbolt Mjos, presidente do Comité Norueguês do Prêmio Nobel. Pude ouvir claramente a sua voz perguntando gentilmente:
— É Wangarí Maathai?
— Sou eu mesma - respondi ajeitando o telefone no ouvido. Ele me deu a notícia e fiquei sem fala. (...)
— Acabo de saber que ganhei o Prémio Nobel da Paz, anunciei, sorrindo, para mim mesma e para os que estavam comigo ali no carro (...). Pela felicidade que estava estampada em meu semblante, todos sabiam que não era brincadeira. Ao mesmo tempo, porém, as lágrimas me escorriam pelo rosto quando me virei para fitá-los. (...) Minha mente repassou todos os anos difíceis (...). O que eu não sabia é que havia tanta gente me ouvindo e que esse momento chegaria. (...)

As árvores foram parte essencial da minha vida e me ensinaram muitas lições. Elas são símbolos vivos de paz e esperança. Uma árvores tem suas raízes no chão e, mesmo assim, se ergue para o céu. Ela nos diz que, para ter qualquer aspiração, precisamos estar bem assentadose que, por mais alto que possamos chegar, é de nossas raízes que tiramos nossa base de sustentação. P . 347

Para mim, nossas raízes, de onde viemos, diz respeito a nossa origem multidimensional. Do que consta em nossa ficha holocármica, nossa essência integral. Cosnciências milenares que somos!

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, Clara. Ela levou adiante sua programação existencial, fazendo sua pequena contribuição, minipeça, que teve tamanha repercussão, maximecanismo.

Quanto à questão das raízes, concordo com você. Mas acrescentaria que assentar nossas raízes também é termos bem claro o que queremos, tomar atitudes (holossomáticas) coerentes para que possamos levantar os ramos para cima e evoluirmos.

Agradeço. Seu post foi muito bom para minhas reflexões do dia de hoje.

Abraço.

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