quinta-feira, 25 de junho de 2009

RESENHA DA APRESENTAÇÃO DE DONALD SCHÖN – EDUCATING THE REFLECTIVE PRACTIONER – Meeting of the American Educational Research Association, 1987

Profissional reflexivo, ensino reflexivo, reflexão-na-ação, epistemologia da prática...

Em minha segunda tentativa de entender a proposta do aclamado Donald Schön, acho que desta vez consegui absorver algo. A primeira vez que li alguns capítulos do seu livro Educando o Profissional Reflexivo, captei algumas idéias interessantes, mas fiquei me perguntando onde exatamente este aclamado autor queria chegar. Não foi uma leitura fácil, apesar do livro já estar traduzido para o Português. Deve ter sido culpa da minha mente engenheira.

Foi por este motivo que escolhi a transcrição de sua palestra para ler. Pensei: “Vou ver como ele fala. Talvez seja menos prolixo, mais objetivo, do que escreveu no livro”. Valeu o esforço. Retomei alguns grifos nos capítulos do livro lido para consolidar o aprendizado.

Inserido no discurso, está o contexto histórico de como o processo de educação resultou numa cisão entre pesquisa e prática, de forma que hoje, a maioria dos alunos, crianças e mesmo adultos, acreditam que a escola não tem nada a ver com a vida real.

Mas eis então as idéias centrais de Schön, no meu entendimento, que apresento sem a pretensão de resumir a proposta do autor:

1. Schön inicia seu discurso falando da necessidade de reforma da escola, trazendo questões fundamentais a serem respondidas, por exemplo: quais são as competências que os professores deveriam estar ajudando os alunos a adquirirem? Que tipo de competências e conhecimentos os professores deveriam possuir para desenvolverem bem o seu trabalho?

2. Mas a crise envolve não apenas a formação de professores. Existe uma crise de confiança na educação profissional: as escolas não conseguem ensinar a prática ética e efetiva.

3. Assim, Schön faz críticas ao academicismo, ao excesso de teorias, à “categorização” do conhecimento, à supervalorização da “Ciência Básica”. Também faz crítica à pouca aplicabilidade do conhecimento e das produções acadêmicas para solucionar problemas públicos; e destaca a importância da ciência aplicada e das habilidades técnicas e da prática aplicada.

4. Ressalta a importância do profissional desenvolver outras qualidades/inteligências, ao que ele chama de “talento artístico”, tais quais perspicácia, intuição, criatividade, espontaneidade. Não basta o “acúmulo de conhecimento”. Não adianta apenas dominar conteúdos, teorias, conhecimento, sem saber aplica-los, usa-los, torna-los úteis, solucionar problemas e conflitos.

5. A famosa expressão reflexão-na-ação, indica que a teoria está incorporada, indissociavelmente, à prática. É a capacidade de responder às situações de forma espontânea, através de improvisação. Não existem soluções técnicas prontas. As soluções dos problemas surgem através da identificação e concepção do problema, através do uso de talento artístico.

6. E como desenvolver a habilidade “artística”? O primeiro requisito é liberdade para aprender através do fazer. Isto é a proposta do “ensino prático reflexivo”. O professor entra em contato com o que os alunos estão dizendo e fazendo. Experimenta-se.

A verdade é que para uma proposta rica e profunda como a do Profissional Reflexivo, que ele próprio cita ser embasada em tradições, não poderia ser objetivo. Daí a importância da abordagem epistemológica da prática. Vale à pena citar as últimas palavras de Schön em seu brilhante discurso referindo-se a um ponto crucial: ..."que as pesquisas da prática reflexiva sejam utilizáveis... que sejam aplicadas a curar as cisões entre ensinar e fazer, escola e vida, pesquisa e prática, dicotomias que têm sido efetivas em minar a experiência escolar em todos os níveis”.

ALUNA: CLARA EMILIE BOECKMANN VIEIRA. Junho, 2009.

PROFESSOR REFLEXIVO

Mais uma vez, Schön aparece em minha vida. E que coincidência: a disciplina que vou ministrar no próximo semestre, (Jogos de Empresas) é pura prática. Aproveitei a leitura dos artigos para amadurecer algumas idéias. Na primeira parte do artigo de Ghedin, chamaram minha atenção as seguintes colocações do autor:

  1. As contribuições de Schön, propositor do conhecimento-na-ação, reflexão-na-ação, onde explica que o conhecimento não se aplica a ação, mas está “tacitamente encarnado nela”.
  2. A indissociabilidade entre prática e teoria, chamando de teoria ao modo de ver e interpretar nosso modo de agir no mundo.
  3. Para que haja reflexão, é preciso haver capacidade de questionamento e autoquestionamento.

Na segunda parte do artigo, o principal foco do autor é a importância do papel do professor como colaborador na construção de uma sociedade melhor. Ghedin propõe que o professor reflexivo transcenda os limites da sala de aula, analisando o sentido político, cultural e econômico que cumpre à escola, educando seus alunos para que se tornem cidadãos ativos, comprometidos com esta sociedade mais justa que todos desejam. Transcrevo alguns tópicos abordados:

  1. A prática ocorre num contexto social determinado;
  2. O professor como intelectual crítico e sua emancipação;
  3. Refletir criticamente significa colocar-se no contexto de uma ação;
  4. O modelo crítico requer esforço para reflexão e entendimento.

Estas colocações retomam minha percepção antiga de que um professor pode e deve fazer muito mais do que apenas passar conteúdos aos seus alunos. Ensinar a aprender é o primeiro passo. Assim se garante aprendizado também do conteúdo a ser ministrado. No mais, plantar sementes. Apresentar e discutir valores e atitudes, incentivar o questionamento, faze-los refletir quanto a si mesmos também. Que se vejam como indivíduos e como parte da sociedade em que se inserem.

Autoconhecimento é essencial a qualquer ser humano. Ainda que os mais resistentes não queiram assumir esta responsabilidade, podemos dizer que ser professor, mais que ensinar conteúdos disciplinares, tem, sem sombra de dúvidas, grande oportunidade de contribuir para a formação de cidadãos, pessoas mais dignas, mais humanas para formarem uma sociedade mais justa e equilibrada. Não há como aprender, verdadeiramente, sem a prática reflexiva. É preciso saber fazer uso do aprendizado. Espero que os anos à frente, com suas naturais frustrações, não destruam minha motivação de ensinar, vivenciar estas razões, na função de professora.

RESENHA DO ARTIGO PROFESSOR-REFLEXIVO: DA ALIENAÇÃO DA TÉCNICA Á AUTONOMIA DA CRÍTICA de Evandro Luiz Ghedin. Por Vieira, C.E.B.2009

Andragogia - Resenha 2

Moura se propõe a integrar a reflexão sobre a formação de professores com a educação de adultos e o referencial desta para o desenvolvimento pessoal e profissional do docente. Com uma perspectiva analítica das formas de aprendizagem, pondera conceitos e as influências que promovem este desenvolvimento, embasado em referencial teórico.

Na primeira parte, debate os interesses técnico, prático e emancipatório que caracterizam a construção do conhecimento, com ponderações interessantes, demonstrando a importância da integração entre estes três interesses. A resolução apenas técnica (instrumental) de problemas, somente aplicando teorias e técnicas científicas, apesar da importância destas, torna-se redutora, desvalorizando os saberes experienciais e práticos dos professores. O interesse prático, que se reforça pelo diálogo, pela interação com outro sujeito torna-se importante.

Pelo conhecimento emancipatório, o indivíduo reflete criticamente sobre as diversas pressuposições que possam vir a distorcer sua interpretação da realidade quanto a si mesmo e à sociedade. “Adquirir saber crítico – emancipatório, implicar possuir a capacidade de autorreflexão e de autodeterminação”. Para isso, torna-se necessário autoconhecimento, desenvolvimento, liberdade. Importante destacar que o saber emancipatório depende também da experiência preliminar com os dois saberes – técnico e prático. Moura insere no interesse emancipatório a importância da reflexão sobre a reflexão-na-ação de Donald Schön, que possibilita a criação de novos significados.

As abordagens apresentadas demonstram como a reflexão sobre si próprio, no contexto profissional, tem implicações para o autoconhecimento e conseqüente desenvolvimento do docente como pessoa e como professor, uma vez promovem o desenvolvimento de novos significados, e novas formas de pensar, de agir e de equacionar problemas.

Sobre o papel da reflexão, apesar de apresentar as críticas de Zeichner, quanto a conseqüências negativas da “moda do prático reflexivo”, Moura demonstra a importância do questionamento pelo sujeito, para que possa reconhecer e experimentar outros pontos de vista, permitindo-se novas aprendizagens. Destaca que para isso são necessários três aspectos: abertura de espírito, responsabilidade e empenho, e coloca que a análise crítica por parte do professor tem que abranger quatro pontos de vista pelos quais o docente avalia sua ação profissional: pela autobiografia pessoal, como aprendente e como professor, pelos olhos do aluno; pelas experiências dos colegas; pela literatura teórica.

Moura, citando o autor Mezirow, fala como as novas aprendizagens são “condicionadas” pelas aprendizagens anteriores e como as estruturas de sentido - pressuposições e distorções que desenvolvemos, influenciam nossas percepções sobre nós e da realidade que nos cerca. Na aprendizagem transformativa, alteramos as perspectivas existentes. Os pressupostos são vistos como distorcidos, observando-se uma perspectiva de sentido transformada. O sujeito reconhece que suas perspectivas não são congruentes com a realidade, ele se apercebe da inadequação dos seus quadros de referência. Só assim, pode desenvolver novas perspectivas e proceder a aprendizagem transformativa.

Concluindo o artigo, o autor reforça a importância da valorização do professor, da reflexão crítica e da prática emancipatória, na terminologia de Paulo Freire; da teoria, da cooperação e do diálogo crítico entre os professores. Tudo isso colabora para o desenvolvimento pessoal e profissional do docente.

Reflexão pessoal: a A3P (Agenda Ambiental na Administração Pública) requer mudança de valores e atitudes. Requer efetivamente, uma aprendizagem transformativa. Apesar das inúmeras notícias, apesar das palestras, debates e diálogos sobre a problemática ambiental, requerendo o engajamento de todos para salvarmos o planeta, a nós mesmos, a maioria das pessoas permanece com seus velhos hábitos, sem se engajar. Como utilizar todo este referencial teórico de educação de adultos, para observarmos a aprendizagem emancipatória e transformativa?

RESENHA DO ARTIGO DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL DO PROFESSOR: UMA REFLEXÃO DA E PARA A EDUCAÇÃO DE ADULTOS. (RUI MOURA - 2000). Por Vieira, C.E.B., 2009

Andragogia - Resenha

Penso que oito páginas não foram suficientes para apresentarem bem as abordagens de Knowles. Tampouco para colocar críticas ao seu pensamento. Mais difícil ainda será sintetizar nesta única página, as propostas do autor discutido. Sem dúvida, concordo que adultos aprendem de forma totalmente diferente de crianças. Eis a importância da Andragogia, retomada por Knowles na década de 50, influenciado, por Eduard Lindeman e Carl Rogers, para citar os principais. Registro a seguir o que achei mais relevante no artigo e algumas reflexões.

1. A idéia de uma postura como facilitador de aprendizagem, ao invés que um professor;
2. A proposta da educação informal de adultos, que considera um clima amigável e informal para as situações de aprendizagem, flexibilidade do processo, o uso da experiência, e o uso do entusiasmo e comprometimento dos participantes – incluindo dos professores.
3. O principal problema de nossa era está nas relações humanas. A solução está na Educação. A aprendizagem de adultos deveria produzir os resultados como:
a. Aquisição de um entendimento maduro de si mesmos;
b. Desenvolvimento de aceitação, amor e respeito pelos outros, com desejo sincero de ajudar outras pessoas;
c. Desenvolver o hábito de aproveitar toda experiência como oportunidade de aprender;
d. Adquirir habilidades para desenvolver os potenciais de suas personalidades;
e. Entender e promover mudanças na sociedade em que se insere.
4. Sobre as características que diferenciam a aprendizagem de adultos citadas por knowles, destaco a autoconcepção/autodiscernimento, que se amplia a medida que a pessoa amadurece e as experiências vivenciadas, que são também fontes de aprendizagem.
5. Há um questionamento quanto à validade deste modelo, uma vez que as circunstâncias condicionam o processo de aprendizagem de adultos. Na minha opinião, aprendizagens podem ocorrer de diferentes formas, por diferentes caminhos. As experiências são oportunidades de aprendizagem (apesar de muitas vezes, adultos perderem esta chance e poderem até “desaprender”). O modelo citado pode ser usado como metodologia. A simples Meditação também promove aprendizagens. Enfim, há vários caminhos. Para mim, Knowles além de promover a necessária reflexão sobre a aprendizagem de adultos, discute o processo e aponta estratégias com abordagens diferentes, contribuindo para o desenvolvimento da relação ensino-aprendizagem.

RESENHA DO ARTIGO MALCOLM KNOWLES, INFORMAL ADULT EDUCATION, SELF-DIRECTION AND ANDRAGOGY (Smith, M. K. 2002). Por Vieira, C.E.B., 2009

domingo, 14 de junho de 2009

Disciplina em curso: Didática do Ensino Superior

Se todos os professores percebessem a magnitude de sua tarefa.
Se compreendessem que ensinar não é simplesmente passar conteúdos.
Se pudessem ensinar os alunos a pensar, repensar e realmente aprender.
Com certeza, formariam profissionais melhores e pessoas melhores e mais lúcidas, ampliando o processo de evolução no planeta.
Sem falar em aulas verdadeiramente interessantes.
Claro que o interesse do aluno precisa estar na outra ponta do processo.
Todos os professores deveriam fazer esta disciplina que estou cursando na UFPE: Didática do Ensino Superior. Excelente: 1) Seguramente poderemos dar melhores aulas. 2)Fato: processo de autodesenvolvimento e reconstrução de conhecimento em ação.

RESENHA DO ARTIGO THE HEART OF A TEACHER – PARKER PALMER

Escrevi esta resenha como requisito de avaliação para a excelente disciplina de Didática do Ensino Superior. Contudo, estou com reflexões de fórum íntimo na cabeça. Fica o desejo de colaborar para a reflexão daqueles que têm a nobre tarefa do Ensinar.

Lendo o brilhante conteúdo do texto de Palmer (The Heart of a Teacher), foram vários os insights. Percebi que estou diante de mais uma grande oportunidade em minha vida. Oportunidade de maior aprendizagem, maior autocompreensão e autossuperação de minhas dificuldades, além de expansão dos meus próprios potenciais latentes. Sim! Ampliação do meu “coração de professora”.

O que mais me chamou a atenção foi o fato de como ele coloca que a qualidade do ensinar não é garantida por técnicas, que são importantes, mas não compõem o essencial. Palmer explica que para um bom ensino, o professor precisa de autoconhecimento. Dar aula, diz ele, é como colocar um espelho diante de si. E se você não está preparado para não gostar do que vê, levantará autodefesas. Com isto, compromete-se a integração do professor com os alunos, e até com o assunto a ser ministrado.

Autoconhecimento. Por que a academia é tão resistente a isso? Por que cientistas das mais diversas áreas resolvem pesquisar de tudo, mas pouquíssimos se interessam pelo mais essencial: a Consciência humana. Divagações à parte, aproveito este ensaio para registrar e fixar os pontos do artigo que foram mais relevantes para mim, resumidos da forma que entendi:

1. Professor: Uma fusão de Freud e Salomão.
2. “Nós ensinamos quem nós somos”. Reforço: a importância do autoconhecimento de mim mesma para uma boa qualidade do ensinar. “Ensinar mantem um espelho para a alma. Se posso me ver e não correr do que vejo, tenho uma chance de me enxergar, me conhecer”. Conhecer os estudantes e conhecer o assunto da disciplina depende muito de autoconhecimento.
3. Ensinar envolve desenvolver e ponderar intelectualidade, emoções e espiritualidade
4. Não existe técnica mais apropriada. Cada professor tem seu estilo próprio. Podem haver técnicas ótimas para uma turma, que não sirvam para outra turma. Portanto, o essencial é manter a identidade e a integridade pessoais, para podermos criar uma teia que nos conecta aos alunos e ao assunto, de forma autêntica, personalíssima.
5. “Técnica é o que professores usam até que o verdadeiro professor chegue”.
6. Identidade e Integridade dizem respeito a tudo que contribuiu para a nossa formação e à autenticidade, autocoerência, autodiscernimento, assunção do que somos, de bom e de ruim.
7. “Nos tornamos professores por razões do coração, animados pela paixão por um assunto e por ajudar as pessoas a aprenderem”
8. Não importa o quanto o meu tópico de ensino seja técnico ou abstrato. Eu me importo com as coisas que eu ensino. E o que eu me importo, define minha personalidade.
9. O tipo de ensino que transforma as pessoas não acontece, se o professor interno do estudante for ignorado. E só podemos falar com este professor interno dos estudantes, se pudermos falar com nosso próprio professor interior.
10. Saber diferenciar: autoridade x poder.
11. Educar é guiar os estudantes por uma jornada por caminhos mais verdadeiros de ver e estar no mundo.
12. Assim como a medicina do século 20 percebeu a necessidade de maior aprofundamento em aspectos psicológicos e espirituais da cura, a educação do século 20 deve se abrir para uma nova fronteira do ensino e da aprendizagem.

E para reforçar tudo e não esquecer, o primeiro parágrafo do texto é a melhor síntese de meus sentimentos:

I am a teacher at heart, and there are moments in the classroom when I can hardly hold the joy. When my students and I discover uncharted territory to explore, when the pathway out of a thicket opens up before us, when our experience is illumined by the lightning-life of the mind--then teaching is the finest work I know.

RESENHA DO TEXTO Saber Aprender – Um olhar sobre Paulo Freire e as perspectivas atuais de Educação, de Moacir Gadotti, Setembro de 2000.

Refletindo sobre meu encontro com Paulo
(O brilhante Paulo Freire, que não tive a chance de conhecer pessoalmente)

Foi o Moacir que me apresentou o Paulo. E foi amor à primeira vista!
Decidi escrever duas resenhas a partir da leitura do artigo de Moacir Gadotti. Uma para sintetizar as idéias centrais do artigo, e outra, sobre os autoquestionamentos que o artigo me provocou, o que faço agora. Estou impressionada com as propostas relacionadas à educação, as suas bases conceituais, a metodologia que este grande educador, Paulo Freire, propôs. Impressionada com a compreensão do quanto o processo de educação é muito mais essencial ao seu humano, e às sociedades, do que eu já considerava ser. E impressionada em me aperceber do quanto estive limitada e atrasada, apesar de tanta dedicação à ciência apesar de tantas formações e produções acadêmicas, tanta leitura, que não incluíram nada de Paulo Freire! E nada de Palmer, e somente muito recentemente, Edgar Morin...

Em que sistema de ensino estive? Assim, o artigo me torna ao mesmo tempo sujeito observador e objeto de análise. E somente o velho ditado “antes tarde do que nunca” para consolar-me neste momento.

Por que nunca acessei nenhum livro de Paulo Freire? Hipóteses me ocorreram, na condição de estudante-aprendiz:
Falta de inserção na grade escolar e universitária
Falta de conhecimento dos professores
Falta de compreensão do autor pelos professores
Foco especialista da minha formação em Engenharia de Pesca, priorizando a ecologia dos animais aquáticos (Mas eu tive uma disciplina de Extensão, e outras de EPB, Sociologia, etc! Cadê Paulo Freire???).

Falta de meu próprio interesse, posto que alguns colegas chegaram a comentar o quanto gostavam de Freire. Em geral, colegas de extrema esquerda, o que me fazia pensar que Freire era um mega-intelectual, interessado apenas em salvar os oprimidos, e de linguagem inacessível para mim, que tinha disciplinas demais pra estudar.
Um conjunto de todos estes fatores devem explicar meu atraso.

O que importa agora, é trazer o precioso Pensamento, e sobretudo a prática, das propostas de Freire para o meu universo e o daqueles que eu alcanço, contribuindo para uma formação de práticas e opinião mais humanas no meio que estiver ao meu alcance: meus alunos, meus colegas de trabalho, meus amigos, minha família.Para aqueles que ainda não leram Freire, infelizmente, não dá pra resumir em poucas linhas sua proposta. Vou tentar sintetizar as pontoações do artigo em outra resenha. Fecho esta com a sugestão para aqueles que ainda não conhecem Freire, o fazerem urgentemente. Um bom começo, é o sintético Pedagogia da Autonomia. E também pedir para o Moacir lhe apresentar ao Paulo. Para os que já o conhecem, reler, e acima de tudo, tentar trazer para a prática as idéias deste brasileiro que fez, e ainda faz, diferença no Mundo.

Universidade e Sociedade – Reflexões de uma ex-cientista acadêmica sobre artigo de Marilena Chauí

O artigo fala sobre a crise da Universidade. Sempre admirei os textos de Marilena Chauí. Mas devo confessar. Foi com grande dificuldade que concluí a leitura em quase uma hora, para apenas 9 laudas. Não sei se pela pressão das últimas semanas, com sobrecarga de trabalho, menos horas de sono, e falta dos meus exercícios físicos. Não sei se pelos sentimentos conflituosos que as argumentações me despertaram, ou pela experiência vivenciada em meus anos acadêmicos “destoantes” da realidade apresentada pela autora. Ou ainda pela prolixidade e inserções eruditas do texto, ou pelo fato de ter recentemente iniciado a docência em uma faculdade privada... ual! Deve ter sido por uma conjuntura de todos estes fatores! E não vai dar para detalhar cada um.

Relendo meus grifos e comentários no texto do artigo, reconheci melhor as reflexões e argumentos apresentados pela autora, concordando com a visão geral apresentada. De fato, a Universidade Pública sofreu transformações negativas nas últimas 4-5 décadas, e necessita urgentemente de uma grande reforma. As propostas finais para a mudança da universidade sob o prisma da formação são fundamentais.

A questão é que em muitos trechos da leitura, incomodou-me certas colocações, por eu ter experimentado situações diferentes. Penso que pesou o fato de eu ter me graduado em uma área dedicada à ecologia, interessada no equilíbrio entre o homem e a natureza. Trabalhei 16 anos com pesquisas dedicadas à sustentabilidade de populações de espécies marinhas exploradas pela pesca. Destaco as seguintes experiências diferentes das colocações da ilustre Chauí, apesar de reconhecer a hipótese de que eu me incluí em grupo exceção, e que, além disso, mantive o foco apenas nas experiências positivas vivenciadas:

1. Não experimentei competitividade por “eficácia organizacional”
2.. O conhecimento não era destinado à apropriação privada, visto que visava a defesa do bem comum da “natureza”, ainda que as informações servissem à iniciativa privada. Infelizmente, nem tudo são flores: as políticas públicas no país subutilizam as informações, e pouco é feito para concretizar ações apoiadas pelos resultados destas pesquisas. Meus cações-anjos, apesar de termos demonstrado o declínio populacional que vinha sofrendo em 1996, apesar de termos calculado a quantidade a que deveria limitar-se a sua pesca, continuou sendo explorado, e hoje está na lista de espécies ameaçadas de extinção. Eis mais uma das tantas deficiências brasileiras. E também frustração pessoal.
3. A interdisciplinaridade na minha área sempre foi considerada, ainda que limitada à “grande área”. Era preciso interligar informações e métodos das áreas da física, da matemática, da biologia, da química, e, não raro, da economia e da sociologia. Portanto, cooperação entre as áreas sempre existiu. Hoje trabalho projeto interdisciplinar que envolve ecologia, economia, e educação e gestão de pessoas.

Por outro lado, percebi uma deficiência na minha formação: muito foco na ciência pura, contra pouco investimento em uma formação mais ampla, envolvendo uma maior ciência antropológica e sociológica, do homem como ser social.

Pesou minha visão romântica e otimista, em parte pelas excelentes oportunidades que tive a chance de vivenciar, e por ter sido orientanda de Professores ímpares, na graduação, especialização e mestrado. Assim, congelei meu foco nos aspectos positivos.
Reforço a opinião de que uma reforma na Educação no país é essencial. Serviço à sociedade, interdisciplinaridade, foco no processo de formação de profissionais e pessoas, e não apenas instrutivismo, autonomia, revalorização da docência e da pesquisa. Apenas para citar algumas necessidades de mudança discutidas pela autora. E não apenas na Universidade, mas crucialmente, na escola pública do ensino fundamental e médio, também necessitam mudanças. Salve Chauí!

RESENHA DO TEXTO PROFESSOR/CONHECIMENTO – DE PEDRO DEMO, 2001

Este artigo traz duras críticas à estrutura de ensino/aprendizagem no Brasil, apontando caminhos para superarmos as deficiências relacionadas à gestão do conhecimento, às instituições de ensino e a atuação do professor na universidade.

Os principais pontos de partida do autor, dos quais elabora seus argumentos, podem ser sintetizados nos seguintes tópicos:

  1. Educação e conhecimento como estratégia inseparável para promoção da inovação e a importância da valorização do saber pensar e aprender a aprender.
  2. Realidade: a contradição da universidade que prega a inovação, mas não consegue inovar-se, mantendo-se instrutivista, com reprodução de aulas “surradas”.
  3. Ressalta a pesquisa como instrumento de reconstrução do conhecimento. Não basta repassar conhecimentos, de forma instrutivista, como vem acontecendo nas universidades estagnadas, resistentes à inovação. A reconstrução do conhecimento deveria ser tarefa central da universidade (e também da escola), como princípio educativo não só para o progresso da ciência, mas também para formação da cidadania.

Com relação ao perfil do Professor, Demo reforça a tarefa mor do professor como sendo saber “fazer o aluno aprender”. E somente o faz, o professor que também aprende, e mais uma vez destaca a importância da pesquisa, a atualização permanente, inclusive nos meios tecnológicos disponíveis, e a interligação entre teoria e prática.

Interessante listar os argumentos do autor para justificar porque é mais importante o domínio metodológico para o saber pensar e aprender a aprender do que o domínio dos conteúdos, apesar da importância deste:diante da velocidade do acúmulo de conhecimento e da inovação, fica difícil dominar conteúdos extensamente.

Ainda com relação ao perfil do professor, Demo ressalta a interdisciplinaridade como essencial ao sucesso do ensino e da aprendizagem e o cuidado com os alunos, para que estes não percam a uma dupla oportunidade: acesso à qualidade formal, quando não aprendem a aprender; acesso à qualidade política, quando não recebem motivação para a politicidade do curso. Pois aí não se forma nem o profissional, nem o cidadão.

O autor finaliza o artigo falando sobre o desafio da pesquisa, que deveria atuar desde a fase escolar, como estratégia para reconstrução do conhecimento e formar pessoas questionadoras, críticas, o que é raro nas instituições de ensino. “Pesa muito a tradição da aula reprodutiva, considerada ainda pela maioria como pedagogia fundamental”.