O artigo fala sobre a crise da Universidade. Sempre admirei os textos de Marilena Chauí. Mas devo confessar. Foi com grande dificuldade que concluí a leitura em quase uma hora, para apenas 9 laudas. Não sei se pela pressão das últimas semanas, com sobrecarga de trabalho, menos horas de sono, e falta dos meus exercícios físicos. Não sei se pelos sentimentos conflituosos que as argumentações me despertaram, ou pela experiência vivenciada em meus anos acadêmicos “destoantes” da realidade apresentada pela autora. Ou ainda pela prolixidade e inserções eruditas do texto, ou pelo fato de ter recentemente iniciado a docência em uma faculdade privada... ual! Deve ter sido por uma conjuntura de todos estes fatores! E não vai dar para detalhar cada um.
Relendo meus grifos e comentários no texto do artigo, reconheci melhor as reflexões e argumentos apresentados pela autora, concordando com a visão geral apresentada. De fato, a Universidade Pública sofreu transformações negativas nas últimas 4-5 décadas, e necessita urgentemente de uma grande reforma. As propostas finais para a mudança da universidade sob o prisma da formação são fundamentais.
A questão é que em muitos trechos da leitura, incomodou-me certas colocações, por eu ter experimentado situações diferentes. Penso que pesou o fato de eu ter me graduado em uma área dedicada à ecologia, interessada no equilíbrio entre o homem e a natureza. Trabalhei 16 anos com pesquisas dedicadas à sustentabilidade de populações de espécies marinhas exploradas pela pesca. Destaco as seguintes experiências diferentes das colocações da ilustre Chauí, apesar de reconhecer a hipótese de que eu me incluí em grupo exceção, e que, além disso, mantive o foco apenas nas experiências positivas vivenciadas:
1. Não experimentei competitividade por “eficácia organizacional”
2.. O conhecimento não era destinado à apropriação privada, visto que visava a defesa do bem comum da “natureza”, ainda que as informações servissem à iniciativa privada. Infelizmente, nem tudo são flores: as políticas públicas no país subutilizam as informações, e pouco é feito para concretizar ações apoiadas pelos resultados destas pesquisas. Meus cações-anjos, apesar de termos demonstrado o declínio populacional que vinha sofrendo em 1996, apesar de termos calculado a quantidade a que deveria limitar-se a sua pesca, continuou sendo explorado, e hoje está na lista de espécies ameaçadas de extinção. Eis mais uma das tantas deficiências brasileiras. E também frustração pessoal.
3. A interdisciplinaridade na minha área sempre foi considerada, ainda que limitada à “grande área”. Era preciso interligar informações e métodos das áreas da física, da matemática, da biologia, da química, e, não raro, da economia e da sociologia. Portanto, cooperação entre as áreas sempre existiu. Hoje trabalho projeto interdisciplinar que envolve ecologia, economia, e educação e gestão de pessoas.
Por outro lado, percebi uma deficiência na minha formação: muito foco na ciência pura, contra pouco investimento em uma formação mais ampla, envolvendo uma maior ciência antropológica e sociológica, do homem como ser social.
Pesou minha visão romântica e otimista, em parte pelas excelentes oportunidades que tive a chance de vivenciar, e por ter sido orientanda de Professores ímpares, na graduação, especialização e mestrado. Assim, congelei meu foco nos aspectos positivos.
Reforço a opinião de que uma reforma na Educação no país é essencial. Serviço à sociedade, interdisciplinaridade, foco no processo de formação de profissionais e pessoas, e não apenas instrutivismo, autonomia, revalorização da docência e da pesquisa. Apenas para citar algumas necessidades de mudança discutidas pela autora. E não apenas na Universidade, mas crucialmente, na escola pública do ensino fundamental e médio, também necessitam mudanças. Salve Chauí!
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